No cômodo ao lado, eu sabia que o Miguel dormia pesadamente e que, se nem o barulho de meu choro contido ao seu lado era capaz de acordá-lo, tampouco o ruído do chuveiro o faria.
Nos últimos meses, eu havia dormido no apartamento de Miguel com frequência suficiente para aprender um pouco sobre os seus hábitos. Eu sabia, por exemplo, que ele jamais usava sapatos dentro de casa. E que ele guardava as panelas com comida diretamente na geladeira, ao invés de armazená-la em potes. Eu sabia que ele gostava de ser beijado no pescoço, bem abaixo de sua orelha. Observei que ele só roncava quando estava muito cansado ou quando exagerava na quantidade de vinho tinto. E que, normalmente, no dia seguinte ao exagero, ele sentia tanta azia que acordava antes mesmo de mim, levantava-se para tomar algum remédio antiácido e deitava-se cuidadosamente ao meu lado, como que para não perturbar meu sono. E, depois, perturbava mesmo assim, ao entrelaçar seus braços em volta de meu corpo antes de adormecer novamente. Mas eu não me importava. A sensação de seu toque me acalmava, e eu adorava quando me invadia a intensidade de seu hálito: uma mistura de álcool, pasta de dente de hortelã e palavras não ditas. Acho que, naquela época, era a minha fragrância preferida no mundo inteiro. Tanto que, ao ser abraçada por ele, eu inclinava a minha cabeça em sua direção para sorver o máximo possível do aroma de Miguel, desejando poder encapsulá-lo e guardá-lo para sempre.
Se existisse uma poção do amor, como nos livros de Harry Potter, é certo que, para mim, exalaria esse mesmo cheiro.
Apesar de ter aprendido um pouco sobre o Miguel nos últimos meses, eu não tinha a ilusão de conhecê-lo bem. Pelo contrário: eu sabia que esses hábitos e que os pequenos detalhes extraídos da nossa convivência não passavam de uma camada superficial do homem que ele era. E, consciente dessa cega e embriagada percepção, eu não tinha dúvidas de que, se as coisas se tornassem mais sérias, diversos aspectos da personalidade dele seriam motivos de brigas e irritação velada. Já dizia Millor Fernandes: “Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”. Sim. Muitas das virtudes do Miguel eram por mim imaginadas, da mesma forma que seus defeitos eram convenientemente ignorados, levando-me ao delírio de ter conhecido o homem perfeito – embora, em meu íntimo, eu soubesse que a realidade era outra. Subconscientemente, dava até um certo alívio saber que estávamos arruinados antes mesmo de o nosso amor alçar voo: pelo menos a queda seria menor.
Apesar das convicções que eu tinha, era inevitável relembrar os pequenos detalhes, trejeitos e peculiaridades de Miguel, que acabavam me despindo de qualquer certeza e me faziam questionar a decisão que eu tomara nos últimos dias. Não poderia deixar de me perguntar se eu estava me precipitando. “Tenha calma, é só o jeito dele”, alguns amigos me diziam. Pelo amor de Deus, até a minha psicóloga havia chancelado as atitudes dele, fazendo-me desacreditar a íntima sensação que eu tinha de ser descartável para o Miguel. De ser só mais uma dentre o cardápio interminável de mulheres que eu o imaginava ter.
A verdade é que o Miguel era desses homens cujo charme superava a beleza física, pois ele era inteligente, divertido, perspicaz e gentil. Da forma que eu o enxergava, estava convencida de que seu jeito era intoxicante para qualquer mulher que o conhecesse. Olhando em retrospecto, reconheço que, talvez, fosse intoxicante apenas para mim e que inexistiam milhares de pretendentes no seu encalço. Não sei. E acho que nunca saberei.
Sei, no entanto, que eu me apaixonei pelo Miguel. Isso não seria um problema por si só. Mas eu me apaixonei por ele muito antes de lhe dar uma chance de se apaixonar por mim.
Acho que, contrariando a minha ânsia de saber se aquele envolvimento sentimental era recíproco, eu tive medo de externar qualquer demonstração da minha vulnerabilidade, pois era mais fácil mentir para mim mesma do que ficar tão exposta a ponto de me magoar. Hoje vejo o quanto fui ingênua: expondo-me ou não, eu já estava vulnerável e suscetível às mágoas que naturalmente decorrem de qualquer relacionamento romântico (se é que podemos denominar assim o que tínhamos).
Não sei afirmar se ele esperava uma sinalização minha para se entregar também, mas, à época, não passava pela minha cabeça o conceito de um homem interessado e, ao mesmo tempo, desapressado. Dada a minha vasta experiência, os homens apaixonados (ou ao menos interessados) sempre tinham a tendência de fazer grandes demonstrações e, caso adotassem uma postura mais contida, eu imediatamente os taxava de indiferentes.
Miguel exalava esse ar blasé com tanta naturalidade que eu nunca sabia o que se passava em sua mente. Por exemplo, quando afirmava querer casamento e filhos, ele o fazia com um distanciamento abnegado, como que declarando não os querer comigo. Como se fosse um acontecimento de um futuro bastante longínquo, mas não factível com a mulher que dividia sua cama aos finais de semana.
Frequentemente ele externava o seu desejo de viajar sem rumo e – quem sabe? – mudar-se de país. Sempre tão sonhador o Miguel! Eu certamente teria considerado que essa sua personalidade aventureira e audaciosa era uma grande virtude, se ao menos ele tivesse me incluído em seus planos. Contudo, diversamente do que eu esperava, ele sempre falava de seus grandes sonhos com uma comoção individualista, fazendo-me sentir deliberadamente excluída e caladamente abalada.
Miguel tinha essas camadas de personalidade – ou autenticidade? – que eu julgava impenetráveis.
Quantas noites passamos no sofá desbotado de seu apartamento, sentados um de frente para o outro, bebendo goles despretensiosos de vinho tinto, sem que eu jamais conseguisse estabelecer uma conexão íntima com ele! Todas as vezes que eu tentava, disfarçadamente, falar sobre sentimentos, ele contornava o assunto de maneira quase imperceptível, com a perícia de um craque de futebol que dribla o seu oponente.
Acho que, por isso, o ato mais íntimo da nossa relação era o sexo. Na cama, a falta de roupa parecia encorajar que nos desnudássemos das nossas outras armaduras e, frequentemente, sussurrávamos palavras de carinho um para o outro. Eram aquelas doses de afeto que me nutriam e me bloqueavam a partida toda a vez que eu cogitava abandonar permanentemente o apartamento de Miguel. Era o anseio de absorver aquelas poucas migalhas de amor – envoltas em suor, gemidos e orgasmos – que me fazia voltar, semana após semana.
Uma única vez, enquanto ele gozava dentro de mim, pensei tê-lo ouvido sussurrar em meu ouvido que me amava. Não tinha certeza. A intensidade fora tamanha que a frase saiu quase como um rosnado, impedindo-me de interpretá-la com clareza. Passado o clímax, ele agiu como se nada dissera e, facilmente convencida de que o prazer às vezes leva as pessoas a expressarem emoções vazias, eu tampouco retribuí as palavras.
Embora esses esparsos momentos de felicidade tivessem o condão de preencher com calor meu coração já calejado, a calmaria durava poucas horas. Sempre que eu saía de seu apartamento na manhã seguinte, sentia, gradualmente, o pesar se instalar em meu peito, decorrente da perspectiva de dias sem vê-lo – e, consequentemente, dias sem seus sussurros calorosos, contrapostos à fria distância que se seguia aos nossos encontros.
Na verdade, Miguel falhava em me dar a segurança necessária sequer para saber se eu voltaria a vê-lo. Depois de nossas interações, às vezes passávamos dias sem nos falar.
Tolamente, eu sempre acreditava que, após o último encontro, as coisas seriam diferentes. Afinal, eu confiei nos meus amigos e na minha psicóloga: Miguel só precisava de tempo para notar o quanto eu era incrível. E que, mais cedo ou mais tarde, ele se apaixonaria por mim da mesma forma como eu me apaixonara por ele.
Para minha infelicidade, esse evento tão antecipado por mim não aconteceu “mais cedo” e eu continuei, incansavelmente, esperando pelo “mais tarde”, embora em meu âmago eu soubesse que esse dia jamais chegaria.
Eu repetia para mim mesma: quando eu encontrar a pessoa certa, ou o “amor da minha vida” – como o meu lado romântico preferia classificar –, tudo será leve. “O nosso envolvimento ocorrerá de modo natural”, eu acreditava. E, ainda que fosse mais fácil me enganar dizendo que as coisas caminhavam assim com Miguel, eu não pensava ser razoável que um relacionamento de quase seis meses não tivesse qualquer perspectiva de futuro.
No começo, eu quase me afogava em meu próprio orgulho e, em diversas ocasiões, vi-me prestes a apertar o botão de “ligar” em meu celular só para ouvir a voz de Miguel, tamanho era o meu desejo de vê-lo. Mas, convicta de que minha ligação não seria bem recebida, eu abandonava o telefone ao lado, com as mãos trêmulas e os olhos marejados, buscando me ocupar com outras atividades para tentar afastá-lo dos meus pensamentos, sem sucesso.
Aos poucos, essa situação foi se tornando cada vez mais difícil.
Durante o dia, eu buscava lugares ocultos no trabalho onde eu pudesse chorar calada sem provocar grandes comoções entre meus colegas.
Em casa, antes de dormir, eu rezava, implorando para que qualquer força sobrenatural ou divindade religiosa me desse forças para superar aquela paixão que eu supunha não correspondida.
Durante as sessões com minha psicóloga, não havia assunto que eu considerasse mais relevante que Miguel.
Em minha vida, ele se tornara tormenta e calmaria. Guerra e paz. Desespero e euforia.
Só Miguel supria a falta que ele certamente não causara. E apenas nos momentos em que estávamos juntos eu tinha a ilusão de preencher o vazio de sua ausência, mesmo sabendo quão breves eram nossos encontros.
Apesar de ficarmos mais tempo separados do que juntos, Miguel me dava pequenas sinalizações de que eu poderia entrar mais fundo na água sem me afogar.
Por exemplo, quando já fazia um mês de nossos encontros, ele comprou uma escova de dentes nova para que eu deixasse em seu apartamento. Pouco depois, constatei que ele havia comprado travesseiros novos – ele parecia satisfeito com os seus, mas aparentemente não lhe passou despercebido que, após nossos pernoites juntos, a primeira coisa que eu fazia ao acordar era alongar meu pescoço. Noutra ocasião, notei que ele instalara um filtro de água em seu apartamento. Quiçá porque eu me queixava de nunca ter água gelada para bebermos – mas quem sabe?
Miguel fazia esses gestos aleatórios de carinho e nunca agia como se fosse grande coisa. Ele simplesmente me deixava descobrir tais atos singelos por conta própria, sem alardear sua gentileza.
Acho que, tola que eu era, enxerguei o que eu queria enxergar. E, à época, quis interpretar essas atitudes como um claro indício de que eu não era a única envolvida naquela relação. Que ele não me encontrava só pelo sexo. Ou para preencher a sua solidão. Que, de fato, estávamos construindo algo juntos.
Por já ter sofrido no passado, meu mantra para relacionamentos se tornara: “vou amar profundamente, mas conferir volta e meia se ainda dá pé”. E, na imensidão que era Miguel, eu fui me entregando somente na medida em que me acostumava com a água, mas certamente calculei mal – até que me afastei demais da margem.
Com o tempo, passei a sentir que ele era simplesmente indiferente em relação a mim. Uma indiferença incalculada.
Por sorte, em algum momento durante esses seis meses, sua indiferença me motivou a mudar.
Eu havia cansado de pensar nele constantemente, esperando inutilmente receber notícias suas durante os dias de semana. Estava exausta de deixar a sua sombra me desconcentrar o dia inteiro, afetando até mesmo o meu trabalho. Eu estava esgotada de chorar, como se minhas lágrimas tivessem secado por sua causa. Cansara-me de sentir o seu aroma aleatoriamente pela rua ou pela casa, desejando que ficasse encrustado na minha pele, pois dessa forma eu sentiria sua ausente presença.
E – principalmente – eu não aguentava mais esconder meus sentimentos, dissimulando a pessoa carinhosa que, outrora, eu me orgulhara de ser, apenas para manter um falso status de alegria perto de Miguel. Para sustentar alguma estabilidade com ele, embora eu mesma estivesse tão instável.
Eu cansara de lutar pelo Miguel.
Eu cansara da sensação de me sentir sozinha em uma dinâmica que, por excelência, deve ser compartilhada a dois.
Estava farta de orgasmos, mas vazia de sentimentos.
A nossa ruína poderia, sim, ter sido causada por diversos aspectos cotidianos: o jeito dele tão bagunceiro, as minhas manias verdadeiramente implicantes. Mas não. Tudo ruiu pela falta de um ingrediente tão elementar e, ao mesmo tempo, tão trivial: a falta de reciprocidade.
O problema é que, quando estávamos juntos, parecia-me que nossa ligação afetiva era real e que eu presumia a ausência de reciprocidade unicamente pela insegurança que nossa separação física me provocava.
Talvez por isso eu tenha demorado tanto a colecionar a bravura necessária para ir embora.
Em determinados dias, nossa conexão era tão verdadeira, tão palpável, que me transbordava a vontade de agarrá-lo pelos ombros, chacoalhá-lo e questioná-lo se aquele vínculo era somente fruto da minha imaginação. Apesar de não faltar vontade de fazê-lo, eu morria de medo da resposta. Porque aprendera desde uma tenra idade que a reciprocidade não se cobra. Que o afeto não se exige. E que o amor não se implora.
Então, ignorando esse anseio, segui em silêncio – por quase seis meses – assistindo à decadência do nosso amor natimorto, até sobrarem apenas os escombros das boas lembranças.
Dissipando-me de meus devaneios, desliguei o chuveiro. Sequei-me com a toalha que Miguel comprara para mim certa vez. Agora que eu estava prestes a terminar tudo, parecia que aquele dia – tão feliz – acontecera em outra vida.
Caminhei silenciosamente até o quarto, onde Miguel ainda dormia, com um ronco leve e a expressão angelical. Não pude deixar de sorrir ao pensar na coincidência: Miguel tinha nome de arcanjo... e talvez por isso sua presença me desconcertasse tanto.
Vesti silenciosamente minha roupa e organizei a pequena mochila com meus pertences em um canto do quarto.
Sentei-me na beirada da cama e fiquei alguns minutos observando Miguel dormir, já antecipando a nostalgia que o vazio de sua ausência traria. Respirei fundo para evitar que as lágrimas traíssem minhas certezas. Eu estava decidida a não chorar. Se havia algo pior que falta de reciprocidade, era pena. Eu não queria que Miguel sentisse dó de mim. Tampouco que ele pensasse que minha tristeza era uma forma dissimulada de fazê-lo me pedir para ficar. Não. Nenhuma gota.
Não sei se foi porque percebeu que alguém o observava ou por causa do meu longo suspiro, mas, segundos depois, Miguel abriu os olhos.
Fitou-me por alguns segundos antes de exibir um sorriso indagador.
Pensei que fosse me perguntar por que eu já estava vestida. Mas desviou o olhar e viu meus pertences arrumados no canto do quarto. Franziu o cenho e sentou-se na cama.
“Você já vai?”, ele perguntou. “Aconteceu alguma coisa?”
“Não, não aconteceu nada”, eu respondi balançando a cabeça. “Mas já vou”, acrescentei.
Miguel coçou os olhos e bocejou e, puxa vida, por que ele precisava ser assim tão sedutor até quando estava acordando?
“Olha, eu...”, comecei. Respirei fundo. As palavras me fugiam quando eu mais precisava delas.
“O que foi?”, ele se aproximou de mim e pegou a minha mão. “Pode falar”, incentivou.
“Miguel...”, consegui dizer com a voz fraca, “eu vou embora e não vou mais voltar. Esses últimos meses... foram incríveis. Mas acho que está na hora de seguirmos cada um o seu caminho”.
Ele me fitou e ficou em silêncio. Desesperada para quebrá-lo, continuei falando: “Desculpe. Não queria que fosse assim. É que... acho que isso não está me fazendo bem”.
Miguel esboçou um sorriso triste. E disse: “quantas vezes eu já te falei para parar de pedir desculpas?”. Externei uma breve risada, interrompida pela infeliz perspectiva de que, provavelmente, aquela seria mesmo a última vez que ele me falaria para parar de me desculpar.
Olhei para minhas mãos e, dessa vez, foi ele que quebrou o silêncio: “mas por quê? Achei que estivéssemos nos divertindo...”
Balancei a cabeça em negação. É. Ele não tinha entendido nada mesmo.
“E estávamos”, afirmei. “Estamos! Mas...”, engoli em seco antes de dizer as palavras que eu passei meses sem coragem de pronunciar: “Mas eu quero mais”.
Ele pareceu confuso. Achei que ele fosse perguntar “mais o quê?”
Cheguei a desejar que ele realmente me questionasse, só para que eu finalmente pudesse libertar todas as emoções que haviam ficado engaioladas em meu peito por tanto tempo. E, destemida, pudesse dizer-lhe a plenos pulmões: quero te dar mais carinho, quero receber mais afeto, quero correr mais riscos, quero uma overdose de você!
Mas, ao invés disso, ele disse: “você nunca pediu por mais”, e afastou o seu olhar do meu, passando a fitar o chão.
Neste momento, eu soube que aquela incapacidade de me encarar só podia significar uma coisa: que eu poderia, mesmo, ter pedido. Que eu poderia ter até implorado. Mas ele não estava disposto a me dar mais. Ou não estava pronto. Não sei. Só sei que eu não estava disposta a ficar para descobrir.
Peguei-me dizendo, quase exasperada: “mas essa é a questão, Miguel! Eu não deveria ter que pedir...”
Ele apenas assentiu e levou a minha mão, que ainda segurava, aos seus lábios, dando um beijo que eu interpretei como uma despedida.
Engraçado. Seis meses de história para acabarmos assim: com um beijo dele na minha mão e lágrimas fantasmas em meus olhos. Como se tudo não tivesse passado de um delírio da minha cabeça.
Levantei-me devagar e peguei minha mochila no canto. Olhei mais uma vez para ele antes de sair do quarto e fechar a porta atrás de mim.
Descendo pelo elevador, refleti. Sobre uma coisa, Miguel tinha razão: eu nunca havia pedido por mais. Eu simplesmente me contentara com as pequenas parcelas de afeto que ele relutantemente me ofertava e, agradecida, eu não reclamava. Pelo contrário: ansiava por receber essas cápsulas de alegria dosada, quase como um viciado que se droga pelo frenesi momentâneo, mesmo sabendo que depois passará dias em abstinência.
Motivada pelas palavras de Miguel, eu fiz uma promessa para mim mesma ao sair de seu prédio: eu nunca mais me contentaria com pouco. Porque não devo ter medo de ficar sem as tais pequenas e limitadas porções de afeto.
Mas sim: devo ter medo de ficar onde não tem amor. Devo ter medo de não dar mergulhos profundos. Afinal, eu – sozinha – me desafogara das profundezas aonde Miguel havia me levado.
Então, como exímia nadadora que sou, seria uma pena e um desperdício se eu ficasse, para sempre, no nível seguro da superfície.
Victória Pereira Martins
16 a 26/04/2021
"Onde não puderes amar
não te demores" (Frida Kahlo)