Enquanto ela ria e fechava o zíper da blusa esportiva, ele beijava seu pescoço irresistivelmente. Ficava pedindo que ele parasse, mas de um jeito que mais o incentivava a continuar do que a parar. Eles estavam em um banheiro apertado, mal limpo e escuro, o que os levava a ficarem cada vez mais próximos um do outro, possivelmente para esquecer o cenário nada romântico. Embora aquilo não fosse o esperado de um bom lugar para ter privacidade a dois, era o único no qual eles podiam entrar disfarçadamente - já que ficava longe de olhares curiosos - a fim de aliviar as tensões causadas pela saudade e a ansiedade inacabável de que aquela hora do dia chegasse.
Aquela situação se repetia havia três semanas, quando eles finalmente cederam aos olhares quentes e aos comentários discretos de terceiros, que insistiam em dar sinais sobre a reciprocidade do desejo do outro. Haviam tantos obstáculos físicos, sociais e culturais da porta para fora, de modo que o lado de dentro tornava-se um abrigo para se esquecerem da existência de companheiros estáveis e da diferença de idade, cuja aceitação seria quase impossível para a sociedade.
Era como se eles fossem mutuamente um refúgio. Apenas por causa daquele acontecimento diário, eles agüentavam sem reclamar as dificuldades rotineiras que os assolavam sem piedade. Não que tivessem vidas difíceis, porém nenhum momento era tão bom como aquele em que eles ficavam apertados em um banheiro escuro por tempo limitado, às vezes só olhando um para o outro, a fim de que o mundo parecesse um lugar com pouco mais de paz.
Então, alguém bateu à porta. Sutilmente, mas era uma batida que insinuava saber de tudo que acontecia lá dentro. O único som - o da respiração - cessou. Eles não se atreveram a fazer qualquer movimento sem antes ter certeza de que o lado de fora estava deserto. Ficaram alguns minutos paralisados. Olharam-se para garantir se o outro concordava que já estava na hora de arriscar descobrir se o perigo de flagrante ainda estava próximo.
Cautelosamente, como se as próprias vidas deles estivessem correndo risco, colocaram a mão na maçaneta juntos, em um misto de proximidade e distância. Puxaram a porta lentamente e encontraram apenas um corredor vazio. Suspiraram aliviados, mas nervosos. Mesmo sendo aquele encontro às escuras a coisa que mais prezavam em todo o mundo, ambos sabiam que a idéia era absurda. Eles teriam de sair de trás daquelas paredes uma hora ou outra, e talvez não estivessem preparados para enfrentar todos os preconceitos necessários para ficarem juntos. Nem preparados nem dispostos.
Olharam-se tristemente, já que aquele fora o sinal de que tudo havia ido longe demais. Olharam-se por minutos, ou assim pareceu, e dissiparam-se como pó acumulado. Lá fora, as pessoas continuavam com suas atividades. Estavam correndo ofegantes pelas esteiras ou puxando pesos com esforço, como se nada tivesse acontecido.
Victória Pereira Martins
28/03/2008
sábado, 23 de fevereiro de 2008
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