Ignorando o fato de que a porta estava destrancada, e que qualquer pessoa poderia entrar no quarto a qualquer momento, a menina despia a própria blusa e ajudava o rapaz deitado sob ela a despir a camiseta. No andar debaixo, adolescentes bêbados e promíscuos realizavam suas loucuras usuais para chamar a atenção uns dos outros. A música estava perturbadosamente alta, mas não a ponto de incomodar as duas pessoas naquele quarto escuro, onde Bob Marley tocava calmamente no aparelho de som em algum canto daquelas quatro paredes. A cama nos os pertencia. O quarto não os pertencia. Na verdade, duvido até que eles pertencessem um ao outro.
Era a terceira vez que saíam. Eles já se conheciam anteriormente, mas nunca haviam tido pensamentos desejáveis sobre isso, até alguns dias atrás, quando se encontraram em uma festa onde ambos desconheciam todas as outras pessoas lá presentes, e uma coisa levou à outra. Ambos eram jovens, e por isso, não conseguiam controlar seus desejos. Essa era a primeira oportunidade que tiveram de ficar a sós. A menina, que se apaixonava facilmente, estava impressionada que mesmo com todo o involvimento intenso que tiveram, ainda não havia despertado nenhum sentimento romântico sobre ele. Havia passado por muitos mau bocados aquele ano, e começou a perceber que era necessário separar amor e sexo. Embora ela não soubesse como fazer isso ainda, estava determinada a descobrir. Mas precisava descobrir o que era sexo antes.
E isso ela também estava determinada a fazer. O menino não era muito experiente, mas certamente tinha mais experiência que ela. Em algumas manobras, ele trocou de posição, e ficou em cima, tomando o controle da situação. Quando ela percebeu que estava prestes a fazer sexo pela primeira vez, começou a ficar nervosa. E se alguém entrasse e os flagrasse fazendo aquilo? E se ela se apaixonasse por ele? E se algo desse errado, e ela acabasse ficando grávida? Mesmo com todas as preocauções que eles tomariam, sempre haveria uma dúvida. Todos esses pensamentos dissiparam-se quando ele parou de beijá-la e perguntou-lhe:
"Você tem certeza de que quer fazer isso?"
Se ele era o tipo de homem que arrisca-se a ter um "não" como resposta só para confirmar se ela tinha certeza sobre o que queria, então ele era o tipo de homem com quem ela tinha certeza que queria fazer isso. Ela riu, divertindo-se com a situação, e puxou-lhe para perto para terminar o que eles queriam fazer. Ou melhor, para começar.
Mas mesmo depois de uma hora, eles ainda não haviam terminado. Por algum motivo, eles não haviam conseguido. Não era falta de vontade: isso havia de sobra. Talvez fosse o fato de que ela fosse virgem e estivesse ansiosa, ou então porque ambos estavam nervosos sobre a porta não pertencer fechadura alguma, ou o álcool que lhes subiu a cabeça, mas simplesmente não deu certo. A menina culpou-se por isso, e morrendo de vergonha, sugeriu para que recolocassem as roupas e voltassem à festa. Qualquer coisa que não fosse aquele momento embaraçoso naquele quarto escuro, onde eles não podiam sequer ver as expressões nos rostos um do outro para saber que ambos estavam sentindo a mesma coisa.
No escuro, vestidos, a menina procurou a mão do menino e o puxou para ela.
"Desculpa", ela sussurrou. "Não sei por que isso aconteceu e..."
Ele interrompeu-a com um beijo. Ela não detectou nenhuma raiva no beijo, ou sinal de que ele estava bravo, ou uma mensagem como se fosse o último beijo.
"Não", ele disse. "É você que tem que gostar".
Ambos sorriram, e mesmo na escuridão, um sabia que o outro também sorria.
Victória Pereira Martins
21/12/2008
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
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