Ajustei meus olhos à rua escura e avistei um pequeno banco logo depois da curva. Confesso que tive medo: arrepiei-me da cabeça aos pés, e não era culpa do ventro frio. Era novembro e já fazia um ano que eu havia recebido aquela ligação. Desde então, eu vivia à espera daquele dia, mesmo que às vezes, secretamente, eu desejava que esse nunca chegasse. Mas o tempo passou mais rápido do que eu esperava, e eu me vi sentada naquele banco de praça, com meus braços pressionando-se em volta de mim, para proteger-me do frio, e do desespero.
A voz seca do outro lado da linha não falou muito no dia da ligação. Explicou porque estava ligando, e a princípio eu ri dela. Mas alguma coisa na seriedade e familiaridade da voz fez com que eu acreditasse nela. Depois daquele dia, eu não tive mais nenhum contato com a pessoa que me ligou. Porém, eu não ousaria esquecer aquela data, aquele dia que atormentava meus sonhos, minha calma, minha paz. No fundo, eu sentia alívio. Pelo menos, a minha vida voltaria ao normal depois daquele encontro. Ou era o que eu pensava.
Olhei para o meu relógio de pulso enquanto esperava. Ela estava atrasada. E ela não era de se atrasar. Pelo menos não a parte dela que eu conhecia. Enterrei minha cabeça por entre meus dedos enquanto o cansaço envadia meu corpo. Minha música preferida começou a percorrer minha cabeça e eu estava prestes a começar a cantá-la quando ouvi uma voz ao longe. Por coincidência, ela estava cantando a mesma música que estivera em minha cabeça segundos antes. Sorri, mais relaxada, e comecei a cantar junto, baixinho.
Enquanto eu prestava atenção ao volume da voz, para ver o quão perto ela estava, comecei a imaginar como seria. Ela olharia nos meus olhos, eu olharia nos dela, e depois? Imaginei se seria muito piegas dizer que eu esperei por ela o ano inteiro. Que ela estava nos meus sonhos, me tirando o sono, com todo aquele mistério. E depois, achei que seria mero demais dizer que esperei por ela o ano inteiro - eu a havia esperado a vida toda! Fiquei envergonhada de ter esses pensamentos, porque, mesmo que eu não disesse em voz alta, ela saberia o que eu estava sentindo. Ela provavelmente sentia a mesma coisa.
Ouvi a música ficar mais alta, mais alta, até chegar perfeitamente aos meus ouvidos. Olhei surpresa, para a sua silhueta: quando ela ficara tão bonita? Devo ter perdido uns detalhes em sua mudança, seu amadurecimento, rápidos demais para meus olhos, e me entristeci por isso. Ela parecia estar surpresa com a minha forma, também. Acho que ela se sentia excluída, como se houvessem excluído o fato dela. Nós duas sorrimos, e eu percebi que todo o meu medo fora em vão. Eu ainda estava surpresa com a situação toda, então demorou um pouco para que eu falasse. Por minutos, apenas nos admiramos.
E então, quando o silêncio ficou longo demais, murmurei "olá" para ela. Ou melhor, para mim.
Victória Pereira Martins
26/01/2009
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
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