domingo, 23 de novembro de 2014

Relacionamentos no século XXI

Fiz uma conta no Tinder e deletei dois dias depois.

Eu sei, parece um pouco volúvel. Mas permita-se explicar.

Sempre fui contra esse tipo de coisa. Aliás, para ser mais específica, sempre fui contra qualquer site ou aplicativo que implicasse a procura de um relacionamento romântico.

Mesmo porque sempre relacionei o Tinder a pessoas que apenas estavam à procura de sexo ou envolvimentos sem significados.

E, bem, preciso admitir que, em determinado momento da minha vida, prometi pra mim mesma que jamais ingressaria no Tinder. Nunca mesmo. Porque não queria ser o tipo de pessoas que precisa disso para conhecer alguém.

É verdade o que dizem: não cuspa para o alto porque pode cair na testa.

Foi exatamente o que aconteceu comigo. Em um momento de muito álcool e carência – e, diga-se de passagem, pouco amor próprio – decidi que iria fazer uma conta no Tinder. Afinal, não estava saindo para bares e baladas a fim de conhecer gente nova: então, que mal ocorreria se eu o fizesse por esse meio?

Eu, recentemente (quer dizer, não tão recentemente assim), terminei um relacionamento e ainda não ingressei em um novo. Conhecidos e familiares estavam tentando me tranquilizar, dizendo que, sem dúvidas, eu conheceria o homem da minha vida no meu ambiente de trabalho (em que eu ainda não ingressei, porque ainda não me formei).

Voltando ao assunto, eu fiz uma conta no Tinder, porque não aguentava mais todos apostando suas fichas no meu futuro profissional. Dessa forma, quis demonstrar que eu poderia conhecer alguém de outra maneira, apesar de não sair para bares ou baladas com meus amigos – e que poderia muito bem conseguir um relacionamento decente antes de ingressar no mercado de trabalho.

Acredito que não é necessário dizer aos desavisados que o aplicativo é um tanto viciante. Pensei que seria capaz de criar uma conta e fechá-la se não achasse o conceito interessante, mas foi um pouco mais complexo do que pensei.

A primeira combinação (“match”) que obtive foi algo surpreendente. Saber que aquele homem que eu achara atraente também se sentia da mesma maneira a meu respeito foi algo sensacional. Afinal, esse tipo de “flerte” só era possível, anteriormente, para mim, em alguma balada que eu frequentasse. Ser capaz de fazer isso do sofá de casa era simplesmente maravilhoso.

Porém, os contras passaram a superar os pós. Notei que eu deveria tomar decisões de aprovar ou rejeitar uma pessoa com base apenas em seus atributos físicos. Isso não me incomodou no começo, visto que eu analisava minuciosamente as pessoas no instagram – quando disponíveis – para saber, pelo menos, o curso que faziam. Não que isso importava, mas, como a minha ideia nunca foi a de conseguir algo casual, me preocupava a formação do cara com quem eu tinha potencial para me relacionar.

Mas... isso começou a me incomodar. No primeiro dia, apenas pensei em quantas combinações eu seria capaz de fazer em um dia e, consequentemente, quantas pessoas novas eu poderia conhecer sem sair de casa. A partir do segundo dia, comecei a pensar que, do mesmo modo que eu estava julgando os outros perfis masculinos apenas pela sua beleza física, eles poderiam estar fazendo o mesmo comigo.

E, assim, eles não saberiam que eu curso Direito. Não saberiam que eu sou uma pessoa sensível, que chora ao final de filmes, mas que pode ser muito resistente nas horas que o demandam. Tampouco poderiam saber que eu toco piano, violão e gosto de cozinhar nas horas vagas, porque as minhas fotos de perfil apenas mostram os meus melhores “closes”, as fotografias em que acreditei estar mais apresentável.

Se eu conhecesse alguém aleatoriamente, fosse na balada ou no meio de trabalho, eu não iria querer mostrar o meu atributo físico mais apresentável, como faço na foto do meu perfil no Tinder. Gostaria de lhes mostrar como gosto de conversar, talvez até de madrugada, antes de decidir se quero ou não me relacionar com alguém.

Gostaria de contar-lhes sobre os dilemas que tive antes de sair de casa: porque tive dúvidas se usaria meu cabelo preso ou solto, muita ou pouca maquiagem, aquela saia ou aquela calça. Ou até mesmo se deveria sair de casa. Porque existe mais de um “close” que pode me deixar atraente (mas isso não depende da fotografia, e sim de quem vê a imagem).

Gostaria que a pessoa me conhecesse de verdade, ainda que minimamente, mas pele na pele, olho no olho, para que os encontros do século XXI não se resumam aos meus atributos físicos, ou às viagens que eu fiz, ou a qualquer outra coisa que apareça no meu perfil do Tinder. Porque eu sou muito mais do que uma foto bonita. E quero acreditar que, quando eu conhecer o homem certo – seja na balada, no meu ambiente de trabalho ou em um site de relacionamentos -, ele também seja.



Victória Pereira Martins
23/11/2014