Foi por isso que, a princípio, me sentei para escrever esta carta de amor.
Mas, tentando traduzir em palavras os sentimentos que se afloraram neste último mês, eu me dei conta de que não fazia sentido escrever uma carta de amor.
Em primeiro lugar, porque não sei ao certo se já é amor. Ou se vai ser um dia. Pode ser que se transforme em uma linda história de amor. E pode ser que essa euforia nunca evolua para nada além disso. Pode ser que daqui a um ano eu nem lembre seu nome. E também pode ser que, em muitos anos, estejamos relatando a história do nosso primeiro encontro aos nossos netos.
Diante de tantas possibilidades, eu concluí que é desnecessário te escrever uma carta de amor.
Veja: em uma carta de amor, eu provavelmente escreveria súplicas para você não quebrar o meu coração. E te recordaria todas as vezes em que ele já foi quebrado por outras pessoas, das formas mais variadas e cruéis possíveis, na esperança de te dissuadir a me expor novamente a esse tipo de sofrimento.
Mas isso não é uma carta de amor. Então não vou te pedir para não quebrar meu coração.
Por mais que seja tentador, seria injusto colocar tanta pressão em você, atribuindo-lhe uma responsabilidade por erros e dores que você sequer causou.
E, na realidade, se virar amor, se virarmos amor, você provavelmente irá quebrar meu coração. Eu provavelmente partirei o seu em pedacinhos. Sendo realista – e talvez um pouquinho otimista –, é certo que, ao longo da vida, iremos quebrar o coração um do outro, inúmeras vezes.
Pensamos que, sob o manto protetivo dos corações não partidos, estamos livres do sofrimento. Que estamos livres de qualquer dor. Mas apenas estaríamos livres do amor.
Se jamais estivéssemos suscetíveis a ter nossos corações partidos um pelo outro, simplesmente significaria que não é e nunca foi amor. Por isso, não sendo uma carta de amor, eu te digo que espero, um dia, podermos nos entregar juntos à nossa vulnerabilidade, mesmo que isso signifique que quebraremos os corações um do outro ocasionalmente.
Ainda, se essa fosse uma carta de amor, eu te juraria amor eterno. E desejaria em meu âmago que essa promessa fosse recíproca.
Mas como não é, eu não vou falar de eternidades. Eu vou te assegurar que, enquanto eu estiver ao seu lado, eu serei fiel e verdadeira. Mas, principalmente, vou jurar sempre ser honesta com você. Mesmo quando for difícil, ou quando a verdade for o nosso pior obstáculo a enfrentar. Lembre-se de que nunca vou exigir promessas vazias quanto ao futuro incerto, tampouco irei fazê-las. Somente espero poder contar sempre com a sua honestidade, sem floreios, sem segredos e sem enganos.
Se essa fosse uma carta de amor, eu teceria inúmeros comentários sobre sua perfeição. Sobre você ser o homem que pedi a Deus. E, dizendo essas palavras, acreditaria que nosso relacionamento é completamente isento de defeitos.
Lembre-se, contudo, que essa não é uma carta de amor. Então não irei te idealizar. Não irei reputar como perfeita nossa relação. Irei, sim, reconhecer que você tem defeitos. Assim como eu. Alguns que eu julgo toleráveis, outros que de fato me agradam. Mas reconheço que todos são indispensáveis à nossa essência, então não quero ignorá-los. Quero honrá-los, podendo ser grata por ser exatamente como sou e te permitindo ser exatamente como você é.
E, embora nosso relacionamento não seja perfeito, sei que nos empenharemos quando encontrarmos percalços pelo caminho, ao invés de fugirmos de embates na tentativa de manter um falso status de perfeição.
Talvez tenha começado a ficar meio extensa, mas ainda não é uma carta de amor. Numa carta de amor, eu diria que preciso de você. Para viver, para ser feliz.
Como não é uma carta de amor, eu serei sincera e direi: não preciso de você. Não mesmo.
Mas eu te quero. Eu te quero tanto que sei que continuarei te escolhendo todos os dias. Mesmo quando eu ficar na dúvida. Mesmo quando te amar for um pouco difícil. Mesmo se porventura eu me deparar com outras opções. Enquanto você continuar me escolhendo, eu vou escolher te querer também.
Veja: se eu precisasse de você, eu seria impulsionada a ficar ao seu lado mesmo sem querer, por pura necessidade. Tendo a possibilidade de escolha, somos livres para escolhermos quem quisermos. E, se por um feliz acaso, escolhermos um ao outro, essa escolha será ainda mais bela, eis que fruto da liberdade.
Apesar de não ser uma carta de amor, eu sei que terão dias no futuro em que veremos amor em tudo. Dias em que, apaixonados, acreditaremos em corações intactos, juras eternas e imperfeições ilusórias. Dias em que, talvez, a magia do amor estará tão presente que deixaremos o realismo para depois. Tomara.
Eu só espero que a gente nunca se esqueça que o amor não é teoria. O amor é prática. Que sempre exige esforço, disposição, vontade e companheirismo.
Espero que lembremos que o amor está sempre presente, não só nos momentos românticos, mas principalmente nos pequenos gestos e atitudes, nos cuidados sutis e nas escolhas conscientes.
Espero que a gente lembre o seguinte: praticar o amor nunca será fácil. Mas sempre valerá a pena.
Por isso é desnecessário escrever sobre o amor.
Necessário mesmo é vivê-lo.
Vamos?
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Victória Pereira Martins
03/06/2019
Victória Pereira Martins
03/06/2019