terça-feira, 2 de outubro de 2007

Rachaduras

Foi naquele momento que eu percebi, mesmo sem entender muito bem o porquê, o que se passara nos últimos dias. Tudo se encaixou: os olhares sombrios, os abraços culpados, a fala interrompida e abafada por beijos que deveriam ser destinados a outra pessoa. Talvez eu que tenha sido muito tola, não dei atenção aos sinais do modo como deveria; e apesar de ter notado uma breve diferença no tratamento que ele dirigia a mim, concluí sem grandes esforços que tudo não passava de mais um episódio da minha fértil imaginação.
Subi apressadamente, ignorando o fato de que pressa era a única coisa que me faltava naquele momento. Mas andei o mais rápido que pude mesmo assim, possivelmente para tentar fugir dos pensamentos que me perseguiam e assolavam sem cerimônia. Com cuidado para não pisar nas rachaduras, as quais faziam o chão ser mais revoltante do que aparentava, cheguei ao topo da rampa, com cansaço nos pés e lágrimas nos olhos. Procurei um banco vago, e amaldiçoei a vida por tamanha ironia: o único banco no qual não havia ninguém sentado, era aquele em que tudo havia começado.
Ao tirar a mochila das minhas costas e colocá-la no chão, pareceu-me que o peso de segurá-la não saiu junto com ela. E quando sentei-me no banco, tive a sensação de que havia sentado no vazio, e caía sem cessar. Esperando sem fé um milagre acontecer nos poucos minutos que me restavam naquele lugar torturante, cheio de fantasmas a me assombrar, enfiei o rosto entre as mãos e mergulhei em uma escuridão só minha, a qual eu não compartilhava com ninguém.
Passaram-se alguns minutos, ou quem sabe muitas horas, e olhei para cima novamente. Lá estava ele, com seu sorriso único, embora houvesse dor em seus olhos; o sol brilhando fortemente atrás, e eu desejando que ele não fosse tão irresistível.
Ele sentou-se ao meu lado e pegou na minha mão como um ato de consolo, talvez até de desespero, querendo gritar urgentemente para eu perdoá-lo. E embora o olhar e o toque representarem tal sentimento, ele nada disse. Apenas me olhou, suplicante.
Bom, pensei, se esse foi o lugar em que tudo começou, que se acabe aqui também. Ignorando a mão quente dele em meu braço, que quase levava-me à loucura, e os anos gloriosos que poderíamos ter pela frente com a pronúncia de apenas uma palavra, me levantei bruscamente. Ele olhou-me como se houvesse um abismo gigante entre nós. E realmente havia. Eu já estava cansada de tentar, então deixei que a distância se prolongasse, até o abismo transformar-se em vários anos-luz.
Peguei minha mochila e questionei silenciosamente onde todo aquele peso estava agora. Sem olhar para trás, fui embora. Com pequenos passos, mas grandes pensamentos.


Victória Pereira Martins
02/10/2007

Desculpa a demora para postar,
estava sem tempo e idéias.

;*

3 comentários:

Anônimo disse...

Uuui
gostei mesmo.

só não mais do que você fez pra mim, né? rs
amo você!

orgulhosa. =*

Bruno Sátiro de Souza disse...

Ahhhh, pra que né!!
jaH disse tudoo, maravilhoso,
futura cadeira 15 na Academia ein!!

escreve muitoooo =)
quero uma dedicaçãozinha no livro
USAUIsuiAHSUIahUISUH

parabéns mesmoo
bjãoo

Will Agner disse...

Perdi a hora de novo lendo suas histórias...

Parabéns.