quinta-feira, 9 de abril de 2009

As cores da noite

Ele fechou o livro e decidiu que estava tarde o suficiente para começar a se preparar para aquela noite. Era a terceira ou quarta vez que lia "Noites Brancas", de Dostoiévski, e não importava quantas vezes lesse, ele sempre se arrepiaria com todas aquelas linhas sobre o amor e a vida. Havia muito, Lucas esperava por aquela noite. Escolheu a dedo que colônia usaria e sorriu fanstasiando com seriam as próximas horas.

Ela olhou pro relógio e concluiu que era melhor se apressar. Victória odiava se atrasar: sempre pensara que a pontualidade era uma virtude. Terminou de passar a maquiagem e selecionou o vestido mais bonito, porque sabia que aquela noite seria importante. Era a oportunidade que ambos esperavam, a ocasião especial que eles decidiram que valia a pena comemorar. Sem poder perder mais tempo, pegou a chave do carro e pensou se Lucas já estaria no local marcado.

Lucas fazia 22 anos naquela noite. E sentia-se melhor do que nunca. Chegou ao bar onde esperaria pacientemente por Victória. Seus anos de experiência com mulheres lhe haviam ensinado que de nada adiantava esperar que a mulher fosse pontual. Mas por uma questão de cavalheirismo, ele chegou com antecedência. Odiaria ver a cena contrária: ela esperando por ele. Então apressou-se para pegar uma mesa ao canto e sentou-se olhando o movimento ao redor. Mais uma vez, pensou como a menina que ele conhecera havia muitos anos estaria. Bem, ele sabia que ela não era mais uma menina, mas não conseguia deixar de pensar nela daquele jeito.

Victória ficava cada vez mais impaciente com o trânsito. Além de ser uma das coisas que mais a irritava, ela estava muito mais preocupada com sua falta de pontualidade. Não queria que Lucas ficasse sentado esperando por ela. Pensou nele e imaginou como ele estaria. Os anos que a haviam amadurecido eram suficiente para que ela encontrasse beleza nele, já que antes só conseguia vê-lo como um amigo mais velho, um protetor. Sorriu com o pensamento, porque sabia que mesmo anos mais tarde, ele continuava sendo um protetor pra ela, de uma outra forma. Uma forma muito mais intensa.

Lucas descruzou as pernas e viu as luzes de um carro na rua. Passou os dedos pelo cabelo e de algum modo, teve certeza que era ela. Viu o carro se desligando, o farol se apagando, deixando a noite - momentaneamente branca - escura novamente. Observou-a enquanto ela saía do carro, e percebeu que todas as suas expectativas haviam sido superadas. Olhando para o tamanho do sorriso que Victória abriu ao vê-lo, soube que ela pensava o mesmo. Os minutos passaram-se lentamente enquanto ela caminhava até ele, abrindo espaço e iluminando o caminho com seu vestido. Eles olharam-se brevemente antes do longo abraço. Ele, com uma camisa preta, envolvendo-a em um vestido branco: era como a noite lá fora, iluminada pelas estrelas. Lucas abanou a cabeça e murmurou:
"Como passam rápidos os anos!"
Ambos sorriram, encantados com a penumbra da memória, clareada pelos momentos futuros que ainda estavam por vir.


Victória Pereira Martins
09/04/2009

Homenagem a você, Lu,
que se tornou eternamente responsável por mim.
Muito especial, e isso não muda.
Feliz aniversário.
:*

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