Ele saiu de cima dela, ela virou-se para o lado. Ofegantes, estimulados pelo orgasmo simultâneo que haviam tido, mal trocaram palavra. Raquel fazia esforço em sua mente para lembrar o nome do homem, e todas as tentativas eram vãs. O êxtase na cama daquele motel luxuoso a fizera esquecer-se de tudo. As marcas em suas costas começavam a doer à medida que seu corpo esfriava, explicitando a vermelhidão dos dedos do homem, cuja força não estampava em seu tipo físico, e sim durante a performance. Ele já dormia quando Raquel começou a colocar as roupas vagarosamente para não acordá-lo. Ela não tinha planos de vê-lo novamente.
Saiu pela rua à procura de um táxi, mas mal se via carro. Decidiu caminhar, a brisa do fim da tarde talvez lhe fizesse bem, talvez ela se recordasse do nome do homem - não que fosse importante, era só a curiosidade corroendo-a por dentro. Recobrou em sua mente quando chegou ao bar sozinha, decidida a se divertir. Havia muitos anos que não gozava do puro prazer mundano, pessoal, algo que fizesse bem para ela e só para ela. Bebeu algumas taças de vinho antes do homem - como era mesmo seu nome? -, ao qual Raquel destilava olhares fulminantes, deixar os amigos de canto e juntar-se a ela. Os dois embarcaram em uma conversa estranha sobre sexo, amor e a realidade fumegante. Não demorou muito para se destinarem a um motel próximo, onde ele despiu-a sem pressa, fazendo questionamentos sobre o anel em seu dedo. Ignorando-o, ela apenas se entregou à luxúria, e abandonou a aliança em cima do criado-mudo.
Parou no meio da rua. Esquecera-se da aliança de noivado. Em cima do criado-mudo. De um quarto de motel. Onde um homem, cujo nome ela desconhecia, dormia. Virou-se para olhar todo o caminho que tinha percorrido desde que saíra do estabelecimento. Pareceu não ter fim. Correu cambaleante com seus saltos altos, tropeçando nas irregularidades da calçada. Qual era mesmo seu nome? Julio? Augusto? André? Paulo? Vitor? Cada impacto da corrida estalava um nome em sua mente, ela ritmava os passos agilizados com as palavras que o homem dissera quando se apresentara. Não sabia por que se importava tanto com a lembrança do nome dele, ela nunca mais o veria mesmo. Não depois daquele dia.
Chegou em frente ao motel, ofegante como estava havia alguns minutos, quando o homem sem nome lhe proporcionara o orgasmo de sua vida. Mas agora seus pés doíam, seu coração palpitava de preocupação - não prazer - e ela não desejava estar lá, opostamente aos desejos anteriores. Antes mesmo de dirigir-se à recepção, ela viu uma silhueta aproximar-se dela. Escurecia, nenhuma imagem parecia fazer sentido à distância. Embora ela tivesse uma ideia de quem fosse, o desconhecimento da identidade dele a fazia afastar-se da fisionomia formada em sua mente. Ele apareceu sorrindo.
"Acho que isto é seu", ele disse, abrindo os dedos e revelando o anel de noivado nas palmas da mão. Raquel respirou fundo, sentiu uma corrente fria se espalhar pelo seu corpo em frenesi. Antes que ela pudesse falar algo, o homem pegou sua mão e delicadamente colocou o anel no dedo do qual ele nunca deveria ter saído. Esse simples fato a excitou.
"Posso fazer uma pergunta?", Raquel sussurrou, com medo de suas próprias palavras. O homem assentiu com a cabeça, um sorriso irresisível e convitativo no rosto. "Qual é o seu nome?" Ao falar isso, olhou para o chão, envergonhada por não lembrar o nome do homem com o qual acabara de ter um orgasmo.
"Qual é o seu nome, Letícia?", o homem perguntou. Raquel olhou-o confusa, balançou a cabeça, divertindo-se com sua ingenuidade. Ele puxou-a pela mão para dentro do motel de novo, e ela o seguiu. Quando se deu conta, ele a despia mais uma vez, exatamente do mesmo jeito. Dentro do mesmo quarto do motel luxuoso, Raquel deixava sua aliança no criado-mudo, e entregava-se ao homem cujo nome não conseguia se recordar.
Victória Pereira Martins
31/07/2009
Homenagem ao dia mundial do orgasmo.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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