E aconteceu. Foi tão bom que cheguei a pensar que não fosse real. Bem, talvez não fosse. Porque com a mesma velocidade que veio, foi embora. Não direi que nunca mais venha a sentir o que senti; eu não prevejo o futuro. Porém eu sei que valeu a pena, sei que faria tudo de novo, sem arrependimentos ou mágoas. Passaria por todo aquele processo, sofreria de novo, se fosse preciso. Mas passar pela vida sem essa, isso não. Talvez seja exagero dizer que foi o melhor acontecimento da minha vida, mas eu com certeza não seria a mesma pessoa se isso não tivesse acontecido comigo. Essas sensações indescretíveis são insubstituíveis. Não sei, pode ser que pessoas (que julgamos) inesquecíveis vão mesmo embora muito rápido.. no entanto, eu quero arriscar. Mesmo que isso inclua reviver as situações ruins. As situações boas as compensarão. Quem sabe tudo realmente dê errado, sejamos realistas, pode dar. Mas eu não vou me arrepender de nada que fiz. E vou continuar fazendo, continuarei arriscando.. Porque nunca se sabe, né? Poderia estar jogando fora a maior oportunidade por medo. E medo é uma coisa que eu não tenho mais.
Victória Pereira Martins
18/02/2007
[to a boy who's got my heart because of all these pretty things he did.. yeah, you know, that you keep me up in bed (L)]
;*
domingo, 18 de fevereiro de 2007
sábado, 10 de fevereiro de 2007
A última carta
Príncipe,
Meu quarto está deserto. Olho para ele, e o vejo repleto de insignificâncias. E chego à conclusão de que é meu coração que está deserto. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu sinto – e relutantemente admito – que falhei. Nada me resta, senão memórias dessa alma triste e solitária.
Você faz falta. E muita. Mas chegou a hora de dizer adeus. Preciso tomar decisões, fazer escolhas e abrir mão de certas coisas. Infelizmente, não sabia que você não entraria na lista de prioridades. Não sei por que, penso que agora eu mereço mais. Mais do que um cara que me ache “gatinha”. Que suma por dias, e depois diga que “estava sempre aqui”. Que me compare com amores antigos, e não me imagina como um amor futuro. Que uma relação ilusória e inexistente, que nunca vai pra frente.
Você nunca esteve presente. Eu é que sempre estava aqui. Você poderia me ter a hora que quisesse, porque minha porta estava sempre aberta. Fique sabendo que eu a estou fechando.
Algumas vezes a gente tem que sacrificar as coisas que gostamos. Eu gosto de você. Mas você não está me fazendo bem. É como se fosse um vício, uma dose exagerada de esperança. E tudo em excesso faz mal. Até as coisas boas, de fato.
Você me faz feliz também. Mas eu preciso me fazer feliz sozinha. Eu preciso bastar para mim mesma. E para isso, eu preciso me desligar de você antes de tudo. É como uma tomada que não sai do interruptor, pois ficou presa lá. É assim que eu me sinto. Presa no tempo. Mas, aos poucos, com a ajuda de quem está disposto a ajudar, ela vai se desvencilhando, assim como estou fazendo com você.
Não que eu queira isso. É que eu não ficaria bem como mais um prêmio na sua coleção. Meu coração não combinaria com a decoração do teu quarto, repleto de tantos outros por ti quebrados.
Prefiro andar na direção contrária a andar na sua direção, que não leva a lugar algum. Pois ainda que seja ao contrário, estou caminhando para algum lugar. E mesmo que demore, um dia eu alcançarei meus objetivos. E encontrarei alguém que me dê valor e que realmente valha a pena.
Adeus.
Com amor, Princesa.
Victória Pereira Martins
13/11/2006
Meu quarto está deserto. Olho para ele, e o vejo repleto de insignificâncias. E chego à conclusão de que é meu coração que está deserto. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu sinto – e relutantemente admito – que falhei. Nada me resta, senão memórias dessa alma triste e solitária.
Você faz falta. E muita. Mas chegou a hora de dizer adeus. Preciso tomar decisões, fazer escolhas e abrir mão de certas coisas. Infelizmente, não sabia que você não entraria na lista de prioridades. Não sei por que, penso que agora eu mereço mais. Mais do que um cara que me ache “gatinha”. Que suma por dias, e depois diga que “estava sempre aqui”. Que me compare com amores antigos, e não me imagina como um amor futuro. Que uma relação ilusória e inexistente, que nunca vai pra frente.
Você nunca esteve presente. Eu é que sempre estava aqui. Você poderia me ter a hora que quisesse, porque minha porta estava sempre aberta. Fique sabendo que eu a estou fechando.
Algumas vezes a gente tem que sacrificar as coisas que gostamos. Eu gosto de você. Mas você não está me fazendo bem. É como se fosse um vício, uma dose exagerada de esperança. E tudo em excesso faz mal. Até as coisas boas, de fato.
Você me faz feliz também. Mas eu preciso me fazer feliz sozinha. Eu preciso bastar para mim mesma. E para isso, eu preciso me desligar de você antes de tudo. É como uma tomada que não sai do interruptor, pois ficou presa lá. É assim que eu me sinto. Presa no tempo. Mas, aos poucos, com a ajuda de quem está disposto a ajudar, ela vai se desvencilhando, assim como estou fazendo com você.
Não que eu queira isso. É que eu não ficaria bem como mais um prêmio na sua coleção. Meu coração não combinaria com a decoração do teu quarto, repleto de tantos outros por ti quebrados.
Prefiro andar na direção contrária a andar na sua direção, que não leva a lugar algum. Pois ainda que seja ao contrário, estou caminhando para algum lugar. E mesmo que demore, um dia eu alcançarei meus objetivos. E encontrarei alguém que me dê valor e que realmente valha a pena.
Adeus.
Com amor, Princesa.
Victória Pereira Martins
13/11/2006
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
Soneto da irmã inesquecível
Nathy, a melhor irmã do mundo
Que mesmo longe, mora em mim
Neste quarto vazio e profundo
Cabe uma solidão sem fim
Sem você, nada mais tem graça
Ler, tomar sol, beijar um monte
Nem mesmo o menino que na rampa passa
Com o olhar perdido no horizonte
Sinto tua falta a todo instante
Ninguém pode tomar o seu lugar
Mesmo que tentem, para mim é irrelevante
Conto os minutos para você voltar
Essa casa ainda guarda sua essência
Que é pura e doce como o mel
O espelho ainda guarda sua aparência
Que é linda como o azul do céu
Nathy, de todos, a mais especial
É insuportável não ter sua presença
Prefiro viajar para o espaço sideral
A ter que conviver com a sua ausência
Victória Pereira Martins
17/12/2006
Homenagem pra Nathy, que por acaso vai voltar amanhã =]
Te aaaamo muito!
=*
Que mesmo longe, mora em mim
Neste quarto vazio e profundo
Cabe uma solidão sem fim
Sem você, nada mais tem graça
Ler, tomar sol, beijar um monte
Nem mesmo o menino que na rampa passa
Com o olhar perdido no horizonte
Sinto tua falta a todo instante
Ninguém pode tomar o seu lugar
Mesmo que tentem, para mim é irrelevante
Conto os minutos para você voltar
Essa casa ainda guarda sua essência
Que é pura e doce como o mel
O espelho ainda guarda sua aparência
Que é linda como o azul do céu
Nathy, de todos, a mais especial
É insuportável não ter sua presença
Prefiro viajar para o espaço sideral
A ter que conviver com a sua ausência
Victória Pereira Martins
17/12/2006
Homenagem pra Nathy, que por acaso vai voltar amanhã =]
Te aaaamo muito!
=*
A promessa
Ela não sabia onde Carlinhos a estava levando, mas já estava cansada de subir a tortuosa ladeira com sua bicicleta.
- Chegamos, prima! – disse a doce e suave voz que por muito tempo Amanda fora apaixonada – Lembra-se desse lugar?
Decerto, aquela rua sem saída com casas todas iguais não lhe era estranha com os olhos da infância. No final, não tinha um retorno ou um jardim, e sim uma fonte com uma fada no centro. Provavelmente, da ponta de sua varinha saía água, mas não daquela vez. É, de fato, a lembrança permanecia, pensou Amanda enquanto seus leves cabelos cor de mel, exatamente o mesmo mel de seus olhos, balançavam calmamente à hesitante brisa. Ela olhou para o primo e pela primeira vez desde que o reencontrara percebeu como ele estava incorporado, diferente e mais bonito. Suas feições estavam adultas, seus olhos, do castanho que eram, haviam-se transformado em um tom quase verde. E seus cabelos continuavam loiros, cacheados e suaves, estranhamente desejáveis.
Quando ela se deu conta de que havia desviado muito sua atenção, percebeu também que ele ainda estava esperando ansioso pela sua resposta. Então, vasculhou bem fundo na sua memória até achar qualquer vestígio de que já estivera naquele lugar antes. As lembranças começaram a aparecer e fluíram cada vez mais depressa à medida que a menina examinava mentalmente os momentos que passara lá.
- Está bem diferente – disse por fim. – Não era tão deserto. E essas árvores eram apenas mudas! – Abriu um sorriso com entusiasmo. – Ah, Carlinhos! Você lembrou! Costumávamos brincar por aqui quando tínhamos... Dez anos? É! Isso mesmo. – O menino sorriu também. – Seis anos depois você... – algo a interrompeu – Calma aí! Por que me trouxe aqui? Alguma data especial?
-Poxa, Amanda! – sua cara ficara séria – Francamente, achei que você se lembraria! 17 de Julho! Meu aniversário de 17 anos. Lembra das nossas longas conversas de que você só faria uma vez na vida uma idade igual à data? 17 em 17! Fizemos uma promessa, sabe? Não importa onde estivéssemos ou onde a vida nos levasse, a gente se encontraria nessas datas! 17 em 17 e 24 em 24!
Ela riu alto e com gosto. Lembrava-se de passagem, mas jamais pensou que eles voltariam a se encontrar. Depois que eles tomaram rumos diferentes – ele saíra da cidade para estudar e ela continuara lá, se privando das coisas que a fizessem lembrar dele -, esperou três anos! Três anos! E finalmente resolveu esquecer. Mas o primeiro amor, seja com dez, trinta ou sessenta anos, quando chega ao fim dói tanto que a dor se torna insuportável e é preferível mentir para si mesmo a conviver com isso. As lembranças diminuem, a falta que a pessoa faz se torna insignificante, mas no coração de quem ama, sempre sobra uma brasa esperando para arder de novo.
Agora, olhando diretamente para ele e sentindo as chamas acesas, suas suspeitas do início estavam erradas. Antes que pudesse perceber, seus olhos encheram-se de lágrimas e Carlinhos a abraçou.
- Priminha, não chore! Eu te amo tanto! – e se inclinando a ela, tocou seus lábios molhados. As lágrimas cessaram. Então, o beijo começou. E o pesadelo também.
Como num filme, todos os acontecimentos passaram pela cabeça de Amanda. Primeiro, eles brincando quando eram apenas crianças, crescendo, tomando rumos diferentes, sofrendo com a separação, se reencontrando, namorando por anos, casando, tendo vários filhos, vendo-os crescer, envelhecendo ao mesmo tempo e morrendo um ao lado do outro. Quantos anos jogados fora, pensou a garota tristemente, mas sabendo que agora que estavam juntos nada poderia vencê-los. Exceto eles mesmos.
Sentaram-se no chão, lado a lado, e contaram um ao outro sobre os acontecimentos depois que Carlinhos deixou a cidade. Assim propagou-se durante uma ou duas horas, e os dois estavam tão entretidos na conversa que nem notaram a passagem do tempo. O sol já tinha ido embora, dando um ar fantasmagórico àquela ruazinha que aparentava ser feliz. O silêncio reinou o lugar completamente deserto, e eles ficaram calados vendo a lua nascer por entre as árvores. Carlinhos pousou a mão carinhosamente no rosto de Amanda e ela olhou para ele com o canto do olho. Eles se beijaram imediatamente. Era automático, mal conseguiam resistir um ao outro. As mãos dele percorreram todo o corpo da prima, que sentia seu desejo aumentar cada vez mais. Quando ele estava prestes a abrir seu sutiã, ela impediu-o. Lembrara-se de todos os ensinamentos da mãe, religiosa extremista, que lhe dissera para não permitir liberdade com os garotos e insistia que sexo era só depois do casamento. Ele lançou-lhe um olhar severo que a fez estremecer por dentro. Morria de medo que seu primo desistisse dela por ser pura e não liberal. Respirou fundo e voltou a beijá-lo de uma forma mais selvagem. Sentia-se culpada por isso, mas fazia do mesmo jeito.
Quase entrou em pânico quando ele a deitou no chão, mas agüentou firme. Continuaram beijando no chão frio durante algum tempo, ao som da cantoria incessante das cigarras. Mesmo naquele momento, Amanda conseguiu rir ao lembrar que há seis anos ela brincava inocentemente naquela mesma rua e que tinha medo de escuro.
Esperou até o momento em que Carlinhos abriu o zíper da calça, com a esperança de que alguém apareceria para salva-la daquele pesadelo. Mas como isso não aconteceu, ela sussurrou baixinho:
- Não quero.
Ele fez que não escutou e ela segurou suas mãos freneticamente numa tentativa frustrada de pará-lo. Mas foi em vão, ele estava completamente decidido a terminar o que fora fazer. Tirou violentamente o short da menina, e ela só pôde assistir a aquilo atônita, sabendo que ela não o conhecia mais. Ele a olhou por uma última vez antes de tornar a beijá-la, e percebeu que havia lágrimas em seus olhos. Amanda sentiu uma vontade imensa de gritar quando aquele menino que ela tanto amava a penetrou sem carinho algum, mas seu grito de horror nunca foi ouvido.
Quando ele se fez por satisfeito daquele corpo quase sem vida, levantou as calças e partiu lentamente, deixando-a pra trás. A garota só conseguia chorar, e demorou quase meia hora até acalmar-se. Ficou lembrando da tarde que acontecera naquele mesmo dia, mas que parecia tão distante. Lembrou de quando ele falara da promessa. E parou, surpresa. Era dia 17 de Julho. Mas não era aniversário de seu primo. Ele mentira, e ela nem se dera conta. Viu-se sozinha naquele lugar tão sombrio e seu medo de escuro voltou. Ela sabia que não tinha o que temer, apenas a longa e dramática jornada de sua vida que viria adiante. Temia o sofrimento pelo qual passaria. Nada mais seria igual. Contemplou aquele cenário banhado pela lua, que aparentava ser maravilhoso algumas horas antes, mas que guardava lembranças dolorosas demais. Quando achou que já perdera muito do seu tempo ali, levantou-se devagar e dirigiu-se para o lugar onde deixara a bicicleta.
Victória Pereira Martins
09/01/2007
- Chegamos, prima! – disse a doce e suave voz que por muito tempo Amanda fora apaixonada – Lembra-se desse lugar?
Decerto, aquela rua sem saída com casas todas iguais não lhe era estranha com os olhos da infância. No final, não tinha um retorno ou um jardim, e sim uma fonte com uma fada no centro. Provavelmente, da ponta de sua varinha saía água, mas não daquela vez. É, de fato, a lembrança permanecia, pensou Amanda enquanto seus leves cabelos cor de mel, exatamente o mesmo mel de seus olhos, balançavam calmamente à hesitante brisa. Ela olhou para o primo e pela primeira vez desde que o reencontrara percebeu como ele estava incorporado, diferente e mais bonito. Suas feições estavam adultas, seus olhos, do castanho que eram, haviam-se transformado em um tom quase verde. E seus cabelos continuavam loiros, cacheados e suaves, estranhamente desejáveis.
Quando ela se deu conta de que havia desviado muito sua atenção, percebeu também que ele ainda estava esperando ansioso pela sua resposta. Então, vasculhou bem fundo na sua memória até achar qualquer vestígio de que já estivera naquele lugar antes. As lembranças começaram a aparecer e fluíram cada vez mais depressa à medida que a menina examinava mentalmente os momentos que passara lá.
- Está bem diferente – disse por fim. – Não era tão deserto. E essas árvores eram apenas mudas! – Abriu um sorriso com entusiasmo. – Ah, Carlinhos! Você lembrou! Costumávamos brincar por aqui quando tínhamos... Dez anos? É! Isso mesmo. – O menino sorriu também. – Seis anos depois você... – algo a interrompeu – Calma aí! Por que me trouxe aqui? Alguma data especial?
-Poxa, Amanda! – sua cara ficara séria – Francamente, achei que você se lembraria! 17 de Julho! Meu aniversário de 17 anos. Lembra das nossas longas conversas de que você só faria uma vez na vida uma idade igual à data? 17 em 17! Fizemos uma promessa, sabe? Não importa onde estivéssemos ou onde a vida nos levasse, a gente se encontraria nessas datas! 17 em 17 e 24 em 24!
Ela riu alto e com gosto. Lembrava-se de passagem, mas jamais pensou que eles voltariam a se encontrar. Depois que eles tomaram rumos diferentes – ele saíra da cidade para estudar e ela continuara lá, se privando das coisas que a fizessem lembrar dele -, esperou três anos! Três anos! E finalmente resolveu esquecer. Mas o primeiro amor, seja com dez, trinta ou sessenta anos, quando chega ao fim dói tanto que a dor se torna insuportável e é preferível mentir para si mesmo a conviver com isso. As lembranças diminuem, a falta que a pessoa faz se torna insignificante, mas no coração de quem ama, sempre sobra uma brasa esperando para arder de novo.
Agora, olhando diretamente para ele e sentindo as chamas acesas, suas suspeitas do início estavam erradas. Antes que pudesse perceber, seus olhos encheram-se de lágrimas e Carlinhos a abraçou.
- Priminha, não chore! Eu te amo tanto! – e se inclinando a ela, tocou seus lábios molhados. As lágrimas cessaram. Então, o beijo começou. E o pesadelo também.
Como num filme, todos os acontecimentos passaram pela cabeça de Amanda. Primeiro, eles brincando quando eram apenas crianças, crescendo, tomando rumos diferentes, sofrendo com a separação, se reencontrando, namorando por anos, casando, tendo vários filhos, vendo-os crescer, envelhecendo ao mesmo tempo e morrendo um ao lado do outro. Quantos anos jogados fora, pensou a garota tristemente, mas sabendo que agora que estavam juntos nada poderia vencê-los. Exceto eles mesmos.
Sentaram-se no chão, lado a lado, e contaram um ao outro sobre os acontecimentos depois que Carlinhos deixou a cidade. Assim propagou-se durante uma ou duas horas, e os dois estavam tão entretidos na conversa que nem notaram a passagem do tempo. O sol já tinha ido embora, dando um ar fantasmagórico àquela ruazinha que aparentava ser feliz. O silêncio reinou o lugar completamente deserto, e eles ficaram calados vendo a lua nascer por entre as árvores. Carlinhos pousou a mão carinhosamente no rosto de Amanda e ela olhou para ele com o canto do olho. Eles se beijaram imediatamente. Era automático, mal conseguiam resistir um ao outro. As mãos dele percorreram todo o corpo da prima, que sentia seu desejo aumentar cada vez mais. Quando ele estava prestes a abrir seu sutiã, ela impediu-o. Lembrara-se de todos os ensinamentos da mãe, religiosa extremista, que lhe dissera para não permitir liberdade com os garotos e insistia que sexo era só depois do casamento. Ele lançou-lhe um olhar severo que a fez estremecer por dentro. Morria de medo que seu primo desistisse dela por ser pura e não liberal. Respirou fundo e voltou a beijá-lo de uma forma mais selvagem. Sentia-se culpada por isso, mas fazia do mesmo jeito.
Quase entrou em pânico quando ele a deitou no chão, mas agüentou firme. Continuaram beijando no chão frio durante algum tempo, ao som da cantoria incessante das cigarras. Mesmo naquele momento, Amanda conseguiu rir ao lembrar que há seis anos ela brincava inocentemente naquela mesma rua e que tinha medo de escuro.
Esperou até o momento em que Carlinhos abriu o zíper da calça, com a esperança de que alguém apareceria para salva-la daquele pesadelo. Mas como isso não aconteceu, ela sussurrou baixinho:
- Não quero.
Ele fez que não escutou e ela segurou suas mãos freneticamente numa tentativa frustrada de pará-lo. Mas foi em vão, ele estava completamente decidido a terminar o que fora fazer. Tirou violentamente o short da menina, e ela só pôde assistir a aquilo atônita, sabendo que ela não o conhecia mais. Ele a olhou por uma última vez antes de tornar a beijá-la, e percebeu que havia lágrimas em seus olhos. Amanda sentiu uma vontade imensa de gritar quando aquele menino que ela tanto amava a penetrou sem carinho algum, mas seu grito de horror nunca foi ouvido.
Quando ele se fez por satisfeito daquele corpo quase sem vida, levantou as calças e partiu lentamente, deixando-a pra trás. A garota só conseguia chorar, e demorou quase meia hora até acalmar-se. Ficou lembrando da tarde que acontecera naquele mesmo dia, mas que parecia tão distante. Lembrou de quando ele falara da promessa. E parou, surpresa. Era dia 17 de Julho. Mas não era aniversário de seu primo. Ele mentira, e ela nem se dera conta. Viu-se sozinha naquele lugar tão sombrio e seu medo de escuro voltou. Ela sabia que não tinha o que temer, apenas a longa e dramática jornada de sua vida que viria adiante. Temia o sofrimento pelo qual passaria. Nada mais seria igual. Contemplou aquele cenário banhado pela lua, que aparentava ser maravilhoso algumas horas antes, mas que guardava lembranças dolorosas demais. Quando achou que já perdera muito do seu tempo ali, levantou-se devagar e dirigiu-se para o lugar onde deixara a bicicleta.
Victória Pereira Martins
09/01/2007
Apelo
Hoje faz um mês que o Senhor partiu. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti tanta falta. Bom chegar tarde em casa, esquecida nas loucuras dos amantes enlouquecidos. Nada mudara, exceto pela ausência contida. O calor permanecia, a presença se fora. O lugar guardado, olhares trocados por engano, a imagem fantasiada de um homem que já estava longe.
Com os dias, Senhor, finalmente compreendi. A notícia de minha perda veio aos poucos: a falta da pressa afobada, o corredor deserto, as cores desbotadas perdendo ainda mais o brilho. Para não dar por fraca, fingi ser forte. Bebia com os amigos e perambulava sem rumo com a companhia que encontrava. Depois eu ficava só, sem a piedade de minha estranha solidão ou de todos os medos da noite fria e cruel.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa das restrições, das risadas inexperientes e das travessuras nas noites eternas. Acaso é saudade, Senhor? Aos seus erros, não lhes poupei perdão. Minhas lágrimas nas refeições foram substituídas por bocas raivosas mastigando. Não é ódio acumulado nem sede de vingança. Mas acostumei-me com a gélida falta que você faz. Não venha mais para casa, Senhor, por favor.
Victória Pereira Martins
29/05/2006
Com os dias, Senhor, finalmente compreendi. A notícia de minha perda veio aos poucos: a falta da pressa afobada, o corredor deserto, as cores desbotadas perdendo ainda mais o brilho. Para não dar por fraca, fingi ser forte. Bebia com os amigos e perambulava sem rumo com a companhia que encontrava. Depois eu ficava só, sem a piedade de minha estranha solidão ou de todos os medos da noite fria e cruel.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa das restrições, das risadas inexperientes e das travessuras nas noites eternas. Acaso é saudade, Senhor? Aos seus erros, não lhes poupei perdão. Minhas lágrimas nas refeições foram substituídas por bocas raivosas mastigando. Não é ódio acumulado nem sede de vingança. Mas acostumei-me com a gélida falta que você faz. Não venha mais para casa, Senhor, por favor.
Victória Pereira Martins
29/05/2006
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