quarta-feira, 30 de maio de 2007

Mentira

Um sábio homem disse que o escritor é mentiroso. Mesmo tendo total conhecimento da realidade, insiste em criar mundos ilusórios, nos quais só ele vive.
O escritor é hipócrita: critica todos os atos realizados por aqueles que vivem sem razão. Sempre diz que faria diferente em sua situação, mas faria totalmente igual, e quem sabe muito pior.
O escritor é um indivíduo eternamente apaixonado pela arte da palavra, alguém que penetra surdamente no mundo da língua, uma pessoa que não consiguiu largar seus vícios e entregou-se totalmente ao universo maravilhoso que é a literatura.
O escritor é alguém incompleto, que só se completa quando está junto de sua paixão. Sempre há algo de errado em sua vida. E mesmo quando não há, o escritor inventa, só pelo prazer de relatar uma infelicidade e desventura de seu caminho.
Talvez esse seja o grande defeito do escritor: gostar do estrago.
Para falar a verdade, é tudo uma questão de ponto de vista.
Eu não vejo como um defeito, e sim uma qualidade. O escritor, ao ser pessimista e sofrido em suas obras, mostra às pessoas que existem, sim, coisas ruins na vida; não há ninguém que desconheça tal fato.
Mas ele também mostra o lado bom das coisas. Porque retrata o amor, a dor, a morte. E, concorde ou não, são esses que salvam da loucura.
O escritor é mentiroso, hipócrita, apaixonado, incompleto e pessimista. Mas, mesmo de um modo estranho e incompreensível, também é feliz.

Victória Pereira Martins
30/05/2007

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domingo, 13 de maio de 2007

Maldita esperança

Mesmo quando a perdemos, tentamos manter a pessoa por perto de alguma maneira. Geralmente procuramos um pouco dela em outros: o costume, a essência, a voz, a cor dos olhos. A verdade é que nos acostumamos com a presença física da pessoa de uma forma tão dependente, a ponto de fingirmos que ela nunca partiu. Talvez seja preferível assim, afinal, tudo é melhor do que viver de desventuras. Mas o problema nisso tudo é: não existe cópia idêntica desse alguém. E por mais que existam semelhanças, ninguém nunca poderá preencher o vazio deixado pela dolorosa partida do amado. Não enquanto sobrar aquele velho vício da esperança, o que nunca é ruim. A não ser quando ficamos obcecados por algum fato que está para acontecer, sendo que nem sabemos ao certo se acontecerá de fato. Por isso, é melhor não esperar nenhum milagre. É melhor seguir em frente.
Porque, apesar da dor, a pessoa não nos faz mais bem. Ela se torna apenas um hábito que precisamos perder.

Victória Pereira Martins
23/05/2007

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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Guerra

Vencedor,
Sinto lhe informar que hoje está doendo mais que o usual. Sim, eu sei que o tempo faz a gente esquecer, mas o tempo também demora a passar. Apesar de ter pensado menos em você esses dias, a cada vez que me lembro de sua nebulosa existência, creio que a pontada interna seja maior, como o intervalo entre esses pensamentos.
É, eu perdi mais uma vez. Angustia-me ter a certeza que você não se importa com tal fato, porque além de ter sido sua culpa meu fracasso, também é seu mérito essa vitória. Irrelevante ter sido intencional ou não, ao menos eu ainda tenho a glória de poder chorar e levar no meu caminho apenas a incerteza. Quem sabe também, cobrar de mim mesma a tentativa de melhora na próxima vez. Isso é, se tiver uma próxima chance.
Caso você se sinta culpado pela minha tristeza e humilhação, acontecimento que eu acho muito improvável, fique sabendo que eu ficarei bem. O tempo é indeterminado e minha dor indefinível, mas eu gosto de prevenir as pessoas com certas ocorrências repentinas, o contrário do que você foi capaz de fazer.
Não quero que, com isso, você sinta que fez algo de errado. Na verdade, eu deveria agradecê-lo pelos bons momentos, ainda que efêmeros, que você me proporcionou. Eu que não deveria lutar com algo que sabia que não poderia combater e vencer. Iria esperar o triunfo ansiosamente, sendo que a realização nunca seria oficializada. O que alivia é minha ilusão doce ter sido destruída em questão de minutos, quando na verdade, poderia ter durado anos. Nesse caso, eu ansiaria tão friamente o grande momento, mas mais cedo ou mais tarde, o inevitável bateria à minha porta, fazendo-me dar adeus ao que seria minha pressuposta razão de continuar lutando.
Por isso, não me envergonho de admitir que caí, sim. Perdi e perderei quantas vezes forem necessárias até aprender com meus próprios erros. A única coisa que me dá raiva nisso tudo é que além de ter perdido a luta, me perdi de mim mesma. Todos os planos foram feitos com a esperança do destino ser em outra direção. Planos que ficarão pra sempre na memória, e nunca em exposição.
E por fim, perdi-me de você também. Lutava porque sabia que você seria o prêmio. Agora eu vejo que foi tolice a minha acreditar que vencendo, eu teria tudo o que queria. Na verdade, o que eu queria mesmo era provar a mim mesma e a todos que eu era capaz de triunfar naquela vez. E nem isso consegui. Ainda alegra-me que apesar de tudo o que vivi, eu arrisquei e valeu a pena.
Perdi, sim, todas as batalhas nas quais eu lutei. Mas ganhei a interna.
Que a vida lhe proporcione muitas vitórias, mas que você também não proporcione a mais ninguém o fracasso.

Victória Pereira Martins
10/05/2007

domingo, 6 de maio de 2007

Inverno

Aquele sorriso é seu maior mecanismo de defesa
Quem o vê, incapacita-se de não gostar
E cada palavra que fala, aumenta sua beleza
Alguém bem melhor do que eu poderia imaginar

A essência que não sai da minha cabeça
Chiclete, cigarro e perfume
É visível sua gigantesca proeza
Impressiona, como de costume

Sem dúvidas, tem muita humildade
Sua paixão é Minas Gerais
E embora deixe saudade
Foi bom tê-lo nesses braços tais

Victória Pereira Martins
02 e 06/05/2007