quinta-feira, 10 de maio de 2007

Guerra

Vencedor,
Sinto lhe informar que hoje está doendo mais que o usual. Sim, eu sei que o tempo faz a gente esquecer, mas o tempo também demora a passar. Apesar de ter pensado menos em você esses dias, a cada vez que me lembro de sua nebulosa existência, creio que a pontada interna seja maior, como o intervalo entre esses pensamentos.
É, eu perdi mais uma vez. Angustia-me ter a certeza que você não se importa com tal fato, porque além de ter sido sua culpa meu fracasso, também é seu mérito essa vitória. Irrelevante ter sido intencional ou não, ao menos eu ainda tenho a glória de poder chorar e levar no meu caminho apenas a incerteza. Quem sabe também, cobrar de mim mesma a tentativa de melhora na próxima vez. Isso é, se tiver uma próxima chance.
Caso você se sinta culpado pela minha tristeza e humilhação, acontecimento que eu acho muito improvável, fique sabendo que eu ficarei bem. O tempo é indeterminado e minha dor indefinível, mas eu gosto de prevenir as pessoas com certas ocorrências repentinas, o contrário do que você foi capaz de fazer.
Não quero que, com isso, você sinta que fez algo de errado. Na verdade, eu deveria agradecê-lo pelos bons momentos, ainda que efêmeros, que você me proporcionou. Eu que não deveria lutar com algo que sabia que não poderia combater e vencer. Iria esperar o triunfo ansiosamente, sendo que a realização nunca seria oficializada. O que alivia é minha ilusão doce ter sido destruída em questão de minutos, quando na verdade, poderia ter durado anos. Nesse caso, eu ansiaria tão friamente o grande momento, mas mais cedo ou mais tarde, o inevitável bateria à minha porta, fazendo-me dar adeus ao que seria minha pressuposta razão de continuar lutando.
Por isso, não me envergonho de admitir que caí, sim. Perdi e perderei quantas vezes forem necessárias até aprender com meus próprios erros. A única coisa que me dá raiva nisso tudo é que além de ter perdido a luta, me perdi de mim mesma. Todos os planos foram feitos com a esperança do destino ser em outra direção. Planos que ficarão pra sempre na memória, e nunca em exposição.
E por fim, perdi-me de você também. Lutava porque sabia que você seria o prêmio. Agora eu vejo que foi tolice a minha acreditar que vencendo, eu teria tudo o que queria. Na verdade, o que eu queria mesmo era provar a mim mesma e a todos que eu era capaz de triunfar naquela vez. E nem isso consegui. Ainda alegra-me que apesar de tudo o que vivi, eu arrisquei e valeu a pena.
Perdi, sim, todas as batalhas nas quais eu lutei. Mas ganhei a interna.
Que a vida lhe proporcione muitas vitórias, mas que você também não proporcione a mais ninguém o fracasso.

Victória Pereira Martins
10/05/2007

2 comentários:

Fábio Marassatto disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Will Agner disse...

Nada como uma boa batalha com algo que parece invencível...

mas talvez eu vença...

quem pode dizer que não?

pelo menos eu vou tentar... e será com todas as forças...