quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Último clamor

Provavelmente, no momento em que essa carta chegar às suas mãos, você não desejará lê-la, sequer. Terá vontade de colocar na lata de lixo mais próxima ou quem sabe reduzir os papéis a cinzas, para não resistir à tentação de descobrir o conteúdo. Se você chegou aqui, já é um progresso. Peço que leia até o final, tenho muito a dizer e não sei se sua paciência chegará à assinatura.

Vai soar cínico, falso, mas peço desculpas. Eu tenho essa mania tola de tentar destruir todos os meus relacionamentos, embora penso que seja inconsciente. Fico vasculhando erros nas palavras, infidelidade nos atos e indiferença nos olhares. Você foi o primeiro no qual não encontrei nada disso. A nossa relação, agora inexistente, foi a única - dentre todas as já vivenciadas - que eu vi desmoronar, perder o brilho sem poder explicar o motivo. Olhando para o passado fosco e melancólico, consigo ver apenas minha estupidez estampada.

Existe essa parte de mim, você sabe, que gosta da separação, do vazio deixado. Essa parte, cuja rotina é tentar recuperar aquilo que afastou, está indo embora. Como dizem daqueles que partiram, ela deve estar em algum lugar bem melhor. Claro: qualquer lugar é melhor que junto a alguém que se cansou dela. Porém, eu não pude deixar que ela se fosse sem deixar uma lembrança, algo que mate minha saudade nos dias muito felizes. Então ela me deu uma coisa muito engraçada que se chama esperança. Até hoje não sei para que serve.

Outra coisa que eu aprendi com aquela minha parte é que às vezes é preciso deixar o orgulho de lado. Então, eu deixei. O problema é que acho que deixei mais do que deveria. Não me alertaram que ele precisava de carinho vez ou outra, e eu acabei o ignorando por muito tempo. Foi aí que eu descobri - por mal - que ele era um pouco fujão. Sem se despedir, ele também partiu. Agora não resta nada além de mim.

Sem eles, eu estou mudada. Se foi para melhor ou pior, não sei. Sei que aquela mulher inconsequente e egoísta não existe mais. Nem aquela confiante e orgulhosa.

E o último pedido que farei a você é que volte.
A esperança não te trouxe de volta. A ida do orgulho também não.
Estou esperando que essa carta traga.

Sinto sua falta.
Com amor,
a outra.


Victória Pereira Martins
20/12/2007

Santa chuva

A chuva caía torrencialmente naquela noite. Quando reinava o pouco silêncio que conseguíamos fazer, dava para ouvir o desespero com que ela batia no chão. A temperatura estava tão elevada naquela época do ano, a ponto de ser um alívio a água gotejante que refrescava o ambiente. Músicas antigas saíam do velho aparelho de rádio, ligado à tomada em um canto qualquer. Mas o excesso das risadas e a vontade de falar todos ao mesmo tempo, fazia com que aquele som parecesse distante.

Eu costumava pensar que doses de felicidade eram o começo dela, quando na verdade, não passavam de pequenos fragmentos, separados pelo tempo. Porém, naquele dia em especial, isso não passou pela minha cabeça um segundo sequer. Deixei a alegria inundar meu corpo, as sensações tomarem o lugar dos pensamentos e os sorrisos, vindos de todos os lados, me contagiarem.

A noite caía junto com a chuva. Os olhares trocados tinham o leve gosto da proibição. As mãos, sedentas pelo toque, ocupavam-se em outra atividade, como brincar com o mexedor da bebida ou dedilhar as cordas do violão. Bocas, à espera do beijo, cantavam disfarçando o desejo. Mas os olhos não se controlavam e várias vezes, sem perceber, um não conseguia tirá-los do outro, como se essa simples demonstração da vontade já fosse uma realização da mesma.

Demorou, demorou mais do que eu planejava. Talvez só tenha demorado na minha concepção de espera. Todos já haviam ido embora, e só restamos nós dois, sentados do lado de fora, porém protegidos da chuva. O engraçado é que ficamos a noite inteira sem parar com o galanteio ocular, mas quando finalmente ficamos sozinhos, mal conseguíamos encarar um ao outro.

Ele sorriu. E era seu maior mecanismo de defesa, pois mesmo quem estivesse com a pior das intenções, iria encapacitar-se de realizar seu feitio pela tamanha grandeza do poder que aquele sorriso exercia. Sentei-me ao seu lado à mesa redonda de granizo, a qual congelava minhas mãos em contraste com a noite que se tornara gélida. Como de costume, ele colocou um cigarro na boca, alimentando seu insaciável vício, ficando ainda mais sedutor - se é que era possível - e me olhou como se não nos víssemos havia anos. Seus olhos penetravam nos meus, aquele olhar viciante, capaz de conquistar quem quer que fosse.

Ele sussurrou meu nome. Nossos lábios se tocaram. Foi como se o mundo tivesse parado, porque até hoje não sei quanto tempo durou. Passaram-se minutos, quem sabe horas, ou então muitos dias. Ele me abraçou e eu fiquei lá, envolvida em seus braços aconchegantes. Lembro-me que ficamos alguns minutos contemplando a noite linda que parecia não acabar mais. E eu desejava que não acabasse mesmo.


Victória Pereira Martins
19/12/2007

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ao desmanchar das ondas

Com passos cautelosos, ela caminhou até a praia. Como que com medo da areia, como se nunca houvesse pisado antes naquela imensidão de água salgada. Colocou os pés vacilantes no mar gelado. Uma onda quebrou, inesperadamente, fazendo encharcar a barra da calça jeans surrada. A temperatura era baixa, a menina arrepiou-se da cabeça até os dedos dos pés. Hesitou ao tentar sorrir, mas sorriu. E ao fazê-lo, gargalhou. Havia muito que não experimentava tal felicidade. Mal acreditava na sorte.
Tentou contar nos dedos quanto tempo faltava para as seis da tarde. Entristeceu-se, porém momentaneamente, ao concluir com pesar que ainda restavam duas horas. Sentou-se na areia molhada, e retirou uma foto emoldurada da bolsa. Era a foto dos dois juntos. A primeira e única que eles tinham. Não fora muito bem tirada, a intenção era parecer espontânea, mas o fotógrafo não conseguiu exceder a expectativa. Sem contar que na mão que acariaciava o rosto da mulher reluzia uma aliança, fazendo-a ter com relutância essa memória repentina toda vez que apreciava o retrato: ele era um homem casado. Era fato que, certa vez, ele jurara a ela que não amava a esposa. Prometeu calorosamente, só faltou ajoelhar-se, que um dia largaria a mulher e ficaria com ela. Somente com ela. A princípio, ela duvidou. Sabia que era tudo conversa, que no fundo ele era louco pela companheira.
Depois de pensar, usar parcialmente a razão, achou a idéia razoável. Afinal, ela era alguns bons dez anos mais nova que a mulher. Ou mais. Talvez a outra tivesse mais que trinta. Nesse caso, elas teriam doze anos de diferença. A garota, sentada na praia quase deserta à medida que escurecia, acabara de fazer dezoito.
Olhou no relógio: seis horas. Eles haviam combinado de se encontrar naquele horário, naquele lugar. Ela pegara um ônibus com o dinheiro que estava contado e partira. Ele era um homem rico, compraria uma casa para os dois na praia, como prometera. Assim como a tarde, a temperatura também caía. A jovem, de pés descalços e molhados, começara a sentir frio. Sem nenhuma vestimenta adicional, a opção foi enterrá-los na areia.
Abriu uma revista, uma das poucas coisas que tinha na bolsa, porém não conseguiu ler. Estava impaciente. Ele estava atrasado e não era de se atrasar. Olhou em volta. Não havia mais quase ninguém, até os vendedores de sorvete já estavam abandonando seus postos. Frio, medo, escuro. E ela sozinha lá.
Consultou o relógio novamente. Já passara das sete. Então lhe ocorreu: ele não iria. Talvez fora apenas um plano mal elaborado, um jeito de fazer com que ela permanecesse longe. Longe da segurança do lar dele, do conforto que tinha com a família. Virou-se, esperou estar errada, esperou ver a luz do farol de um carro, esperou vê-lo correndo, pedindo desculpas pelo atraso. Ficou esperando isso acontecer mais tempo do que deveria. Eram oito horas.
Caminhou em direção à água até molhar os joelhos. Olhou para o horizonte.
Viu o mar. E atrás as montanhas. Viu até o inexistente. Só não viu o que queria ver.


Victória Pereira Martins
08/11/2007


Escassa população de visitantes:
peço que ao entrar aqui e ler algum texto meu, comente sobre o que achou da página, de alguma das narrativas, faça críticas, elogios, dê sugestões, etc. Qualquer opinião é bem-vinda.
Pode ser via e-mail, msn, ou deixando um comentário aqui mesmo :)
Agradeço.

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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Alívio

Rindo, puxou o gatilho diante do corpo morto da mulher.

Victória Pereira Martins
05/11/2007

Resolvi participar do desafio proposto pelo livro "Os cem menores contos brasileiros do século", onde há microcontos de até cinqüenta letras - sem contar título e pontuação - escritos por cem escritores brasileiros. O livro é inspirado no mais famoso microconto do mundo, o qual contém apenas 37 letras:

Quando acordou,
o dinossauro ainda estava lá.
(Augusto Monterroso)

Segue o desafio para outros escritores.

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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Velhos desconhecidos

Querido estranho,

apesar de termos nos tornado estranhos um para o outro, de uma hora para outra, formalidades não são necessárias. Por tanto tempo convivemos sem fazer uso dela, não será agora que farei.

Outubro parece não acabar. Cada vez mais, tenho a impressão de que o sol nasce com menos freqüência que se põe. Talvez seja um truque, uma enganação barata realizada pelos meus próprios pensamentos, uma forma de me torturar com mais intensidade. No começo, pensei que estivesse ficando louca. Acho que estou mesmo.

Na verdade, gostaria de isentar-lhe de qualquer culpa que ouse sentir. Coisa que duvido, não por mal, mas simplesmente porque você tentou - de todas as maneiras possíveis - colocar-me como culpada. Não nego: errei no passado, me arrependo de alguns atos que cometi. E se vingança era o que você queria, falhou com a criatividade - existem outros meios pelos quais poderia se vingar, quem sabe até mais dolorosos do que você escolheu. Mas isso é algo pessoal, não deveria opinar.

Estive pensando sobre nós. Quer dizer, sei que não existe mais nós. Mas estive pensando naquilo que costumávamos ser. E exercíamos tão bem o papel de um só...

Seria mentira se eu dissesse que não sinto falta. Porém nós progredíamos e regredíamos no mesmo minuto. Todo dia era preciso começar do ponto de partida. Sempre assim: você me chamava, eu não escutava; eu gritava, você teimava em não ouvir. E penso que retrocedemos de tal forma que a distância existente entre nós agora explique-se com esse fato. Não faz mal. Eu sempre soube que você costumava fugir e mais cedo ou mais tarde encontraria maneiras de fazê-lo.

Não que isso vá provocar-lhe ciúme ou raiva, não é essa a intenção, mas queria que soubesse que encontrei alguém, uma outra pessoa. Ele sorri como você. Quando a expressão enruga-se em um sorriso apaixonado e meio sem jeito, os olhos dele fecham e ficam pequenos. Ele é um pouco mais baixo, tem os cabelos emaranhados, a voz grossa e me abraça com uma ternura inexplicável. Acho que nunca fui premiada com um abraço envolvente seu. Ele é sonhador. Talentoso, quer sair daqui. Contou-me outro dia que não sai por minha causa. E outros motivos, claro: família, amigos, falta de coragem. Coragem é o que mais nos impede, não acha? Por exemplo, não te procurei antes por ausência dela.

E é pela falta da mesma que eu não consigo seguir em frente. Não quero olhar para trás, para tudo o que houve entre nós e correr o risco de vivenciar tudo novamente. Bom, essa é a despedida. Oficial. Quem sabe contatando-lhe uma última vez, eu consiga abrir mão desses pensamentos, da vontade de ter o passado de novo.

E espero realmente que o tempo apague minhas lembranças suas. Espero que a razão me mostre o quanto você era insuficiente, vil e medroso - tudo isso exageradamente - a ponto de não ser capaz de construir uma história ao meu lado. Ou ao lado de qualquer pessoa.

Não que eu deseje a você mal algum. Torço para que saia vitorioso na vida, que consiga realizar os seus sonhos mais almejados.

Até logo.
Assinaturas não são necessárias, também.


Victória Pereira Martins
30 e 31/10/2007


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domingo, 14 de outubro de 2007

Goma de mascar

Coloquei uma goma de mascar na boca antes daquela parada. Era um vício do qual eu não conseguia me livrar, era algo automático. Antes que pudesse perceber, meus dentes mascavam freneticamente, o que muitas vezes causava-me dores de cabeça. Desci do carro com ares de frescura, pois estava enojada com o cheiro repugnante, cuja inalação impedia qualquer pensamento positivo. Eu detestava aquelas paradas com o intuito de utilizar banheiros públicos, aliviando as necessidades impossíveis de serem contidas até o final da longa viagem.
Não sei o porquê, mas aqueles lugares me davam uma angústia inexplicável e gigantesca, além do incrível desejo de sair correndo na primeira oportunidade. Ainda andava cautelosamente para não pisar em poças que continham sabe-se lá o quê, quando a porta automática do posto de serviços se abriu. Foi então que o vi. Parecia estar decidindo-se sobre qual revista comprar: carros ou pornografia. Tinha sobrancelhas arqueadas, olhos vivos que variavam de verdes a castanhos dependendo de sua posição contra à luz e uma irresistível boca rosada, que guardava um sorriso sedutor. Fiquei parada alguns momentos apreciando toda aquela formosura, cuja existência era questionável, antes de dirigir-me ao banheiro quase inutilizável. Após lavar minhas mãos exageradamente, voltei para o posto. Mas não cheguei a avistar de imediato aquela criatura que parecia ser de outro mundo. Demorei-me um pouco na banca de revistas, com a esperança de vê-lo novamente. E vi, com uma pontada de decepção: ao seu lado, com a cabeça encostada em seu peito, enquanto esperavam na fila do caixa, estava uma mulher alta, seus cabelos loiros e brilhantes sendo envolvidos pelas grandes mãos que eu desejava ter sob meu corpo.
Tolice de minha parte ter imaginado que alguém assim tão impecável fisicamente fosse solteiro; precipitei-me ao tirar conclusões erradas sobre seu estado civil. Deveria ter imaginado, os mais interessantes nem sempre são disponíveis. Não sem antes comprar goma de mascar, saí do posto, sem saber se aquela tristeza era por causa do ambiente ou por causa do homem. Se fosse pelo segundo motivo, pensei, talvez eu estivesse ficando louca, eu nunca o tinha visto antes na vida. Claro que ao entrar pela porta, indaguei-me sobre como seria tê-lo, ainda que só por uma noite; e depois de descobrir que ele tinha realmente alguém, conclui com pesar que realizar meu desejo seria impossível. Pelo menos para mim: azar com homens eu tinha de sobra.
Encostei-me contra meu carro de cor vermelha meio desbotada, ou talvez fossem meus olhos que o viam assim, e amaldiçoei-me por ter decidido ir à praia sozinha. Viajar para fugir dos problemas não era algo que eu desaprovava, mas fazê-lo sem companhia, sim. Tentei sem mérito acender um cigarro, provavelmente meu isqueiro estava sem fluido. Revoltada com tudo de ruim que acontecera no dia, na época, ou quem sabe na minha vida inteira, joguei-o com raiva no chão repugnante. Olhei para cima ao perceber que havia acertado o pé de algum infeliz.
Até hoje não sei se consegui ou não disfarçar minha surpresa, porque o meu alvo foi aquele homem, cujo nome ainda não sabia, porém dono de uma fisionomia que parecia cada vez mais familiar. Ele sorriu e eu tentei dar um sorriso razoável de volta.
- Problemas com o isqueiro? - perguntou.
Não consegui pronunciar um simples "sim", ou apenas rir, então assenti seriamente com a cabeça. Ele estendeu a mão em direção à minha boca e entendi que ele estava tentando acender meu cigarro. Aceitei a ajuda e agradeci tímida.
- Está indo à praia? - ele quis saber.
- Você também? - o que consegui dizer em resposta.
Ele sorriu e me ofereceu goma de mascar.


Victória Pereira Martins
10/09 e 13/10/2007

é isso.

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terça-feira, 2 de outubro de 2007

Rachaduras

Foi naquele momento que eu percebi, mesmo sem entender muito bem o porquê, o que se passara nos últimos dias. Tudo se encaixou: os olhares sombrios, os abraços culpados, a fala interrompida e abafada por beijos que deveriam ser destinados a outra pessoa. Talvez eu que tenha sido muito tola, não dei atenção aos sinais do modo como deveria; e apesar de ter notado uma breve diferença no tratamento que ele dirigia a mim, concluí sem grandes esforços que tudo não passava de mais um episódio da minha fértil imaginação.
Subi apressadamente, ignorando o fato de que pressa era a única coisa que me faltava naquele momento. Mas andei o mais rápido que pude mesmo assim, possivelmente para tentar fugir dos pensamentos que me perseguiam e assolavam sem cerimônia. Com cuidado para não pisar nas rachaduras, as quais faziam o chão ser mais revoltante do que aparentava, cheguei ao topo da rampa, com cansaço nos pés e lágrimas nos olhos. Procurei um banco vago, e amaldiçoei a vida por tamanha ironia: o único banco no qual não havia ninguém sentado, era aquele em que tudo havia começado.
Ao tirar a mochila das minhas costas e colocá-la no chão, pareceu-me que o peso de segurá-la não saiu junto com ela. E quando sentei-me no banco, tive a sensação de que havia sentado no vazio, e caía sem cessar. Esperando sem fé um milagre acontecer nos poucos minutos que me restavam naquele lugar torturante, cheio de fantasmas a me assombrar, enfiei o rosto entre as mãos e mergulhei em uma escuridão só minha, a qual eu não compartilhava com ninguém.
Passaram-se alguns minutos, ou quem sabe muitas horas, e olhei para cima novamente. Lá estava ele, com seu sorriso único, embora houvesse dor em seus olhos; o sol brilhando fortemente atrás, e eu desejando que ele não fosse tão irresistível.
Ele sentou-se ao meu lado e pegou na minha mão como um ato de consolo, talvez até de desespero, querendo gritar urgentemente para eu perdoá-lo. E embora o olhar e o toque representarem tal sentimento, ele nada disse. Apenas me olhou, suplicante.
Bom, pensei, se esse foi o lugar em que tudo começou, que se acabe aqui também. Ignorando a mão quente dele em meu braço, que quase levava-me à loucura, e os anos gloriosos que poderíamos ter pela frente com a pronúncia de apenas uma palavra, me levantei bruscamente. Ele olhou-me como se houvesse um abismo gigante entre nós. E realmente havia. Eu já estava cansada de tentar, então deixei que a distância se prolongasse, até o abismo transformar-se em vários anos-luz.
Peguei minha mochila e questionei silenciosamente onde todo aquele peso estava agora. Sem olhar para trás, fui embora. Com pequenos passos, mas grandes pensamentos.


Victória Pereira Martins
02/10/2007

Desculpa a demora para postar,
estava sem tempo e idéias.

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segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Cortinas

Obrigada por me entender em meus piores momentos e fazer com que tudo fique bem. Obrigada por ter perdoado os meus erros tolos, os quais poderiam ter te afastado de mim. Obrigada por compreender minhas limitações e intolerâncias, sendo que você é o único para quem eu não tenho o porquê me poupar.
Obrigada por me tratar como se eu fosse insubstituível e realizar minhas vontades com máxima urgência. Obrigada por ter me explicado com demasiada calma os seus conhecimentos e experiências que formam o que você é. Obrigada por me dar satisfações sobre os seus atos, quando, na verdade, você não me deve explicação alguma.
Obrigada por ter me acompanhado quando eu me senti sozinha ou até mesmo quando não havia necessidade, apenas para não me dar o desprazer de ficar longe de ti. Obrigada por ter sido você o participante de alguns dos melhores momentos da minha vida. Bem, talvez só tenham sido os melhores porque você estava comigo.
Obrigada por ceder às suas vontades para me conquistar. Obrigada por me esquentar em dias frios. Obrigada por me tranqüilizar quando penso em te perder.
Obrigada por fazer promessas de que nunca estará longe. Obrigada por se importar com os meus sentimentos e nunca machucá-los. Obrigada por me fazer ter esperança. Obrigada por não me dar motivos para ter ciúme, mas de qualquer modo, eu tenho.
Obrigada por ter se entregado de corpo e alma e estar somente comigo quando estava comigo. Obrigada por ter demonstrado afeto e carinho. Obrigada por me olhar daquele jeito, como se fizesse anos que não nos víamos.
Obrigada por me tocar como se o mundo fosse acabar, mas inexplicavelmente, sem pressa. Obrigada por fazer meu coração bater rápido e devagar ao mesmo tempo. Obrigada por me elogiar de um modo verdadeiro, fazendo com que eu pense que sou a única provida de tal qualidade.
Obrigada por ter me abraçado forte, de forma que ninguém pudesse separar-nos. Obrigada por ter me ensinado coisas que eu não sabia, e agora, nunca as esquecerei. Obrigada por fazer com que meus esforços não tenham sido em vão.
Obrigada por sorrir fazendo todo o resto desaparecer. Obrigada por oferecer seu colo nos bons e maus momentos. Obrigada por me apoiar quando todos estão contra mim.
Obrigada por ter feito eu me sentir segura em seus braços reconfortantes. Obrigada por sempre me dar valor. Obrigada pelas discussões que só acrescentaram e fizeram com que eu percebesse o quanto você significa para mim.
Obrigada por me surpreender com seus atos e fazer com que eu sempre te queira mais e mais. Obrigada por usar seus truques para me enlouquecer. Obrigada por me dar a atenção ideal e ouvir com entusiasmo tudo o que falo.
Obrigada por ter me dado a paz necessária para escapar da loucura. Obrigada por me livrar de minhas preocupações. Obrigada por confiar em mim e me confidenciar fatos.
Obrigada por me apresentar a seus amigos como se eu fosse digna de ser apresentada. Obrigada por ter sido o primeiro a realizar alguns de meus desejos mais secretos. Obrigada por nunca deixar transparecer interesse por outras quando eu estava com você.
Obrigada por relatar seus outros casos como se não tivessem tanta importância. Obrigada por me fazer pensar que ter me feito tão bem não foi esforço algum. Obrigada por muitas ações que podem ter parecido banais para você, mas com as quais eu me encantei.
Obrigada por fazer com que eu sinta sua falta. Obrigada por ter me feito rir quando tive vontade de chorar. Obrigada por ter me feito chorar em momentos adequados, também.
Obrigada pelas sensações que nunca havia tido. Obrigada por ter me feito sentir de novo. Obrigada, simplesmente por tudo.
Obrigada.


Victória Pereira Martins
19-20/08/2007

"Só pra você eu me poupei
Será que o tempo sempre disfarça?
Tomara um dia isso tudo passa
Desculpa as mágoas que eu deixei"

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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

O melhor lugar do mundo

Não é de agora que países subdesenvolvidos sofrem com problemas como a miséria, a fome, a falta de educação de qualidade, a desvalorização da mulher, a mortalidade infantil, condições precárias na saúde das gestantes, doenças como a AIDS, malária, dentre outras e o desrespeito ao meio ambiente. Alguns desses problemas, podem ser aplicados também a países desenvolvidos. Essas questões sociais são visíveis e estamos sujeitos a presenciá-los dia após dia.
Dificuldades assim nos levam a indagar a respeito de lugares ideais para se morar. Pesquisas, feitas com um grupo de crianças entre sete e catorze anos de classe baixa, revelam a família modelo que elas gostariam de ter, uma família que não tivesse por que se separar, devido a pais compreensivos e estudo de qualidade, por exemplo. Porém, talvez, esse padrão de vida que desejam não seja assim tão atingível quando se trata de um país como o Brasil. Há violência a cada dois passos que se dá, jovens vendendo balas no trânsito enquanto deveriam estar na escola, mães alcoólatras, pais violentos.
Cogita-se a possibilidade de lugares imaginários, onde tudo é perfeito. Com um pesar óbvio: não são reais. Manuel Bandeira mencionou uma vez, em uma famosa poesia, Pasárgada, um local em que não há fome nem miséria, todos são felizes e sem motivos de preocupação. Há quem diga que Pasárgada é o paraíso, para onde vamos quando morremos. E da visão dos mais pessimistas, Pasárgada é para onde vão os fracassados quando querem fugir dos problemas.
Existe também a idéia clichê de que “não há lugar como a nossa casa”. Não discordo totalmente dessa teoria, mas para muitos, tal lugar não pode ser chamado de lar, e alguns dariam tudo para estar longe da moradia.
Talvez imaginar locais ideais para se viver não seja uma das mais originais concepções, visto que todos têm a opinião de que pensar no abstrato é para fracassados, é para quem não tem coragem de encarar a realidade. Sinceramente, esses não estão absolutamente errados, mas fica a pergunta: qual é o melhor lugar do mundo para se viver, então?
Bem, só há uma resposta para essa pergunta. Não sabemos o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos. E o que definitivamente não queremos é o mundo no qual estamos vivendo, com tantos problemas absurdos, e onde todos são cegos, surdos, mudos e hipócritas demais para mudá-lo.

Victória Pereira Martins
01/08/2007

Comentem! :]
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quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O último adeus

Primeiramente, eu não vou me desculpar pela minha atitude, porque eu realmente acho que será melhor assim. Não pense que todo esse tempo eu te enganei. Muito menos que eu não gostava - ou melhor, que eu não gosto - de você. A verdade é que eu nunca serei alguém brilhante, que possa preencher a vaga de pessoa perfeita. Eu nunca poderei atingir todas as suas metas, fazer-lhe o tempo todo feliz, ser o alguém que falta em sua vida. Não estou dizendo que a culpa do fim foi sua, por fazer-me pensar que eu teria de ser o esteriótipo de seu gosto. Você nunca chegou nem perto de insinuar isso. Talvez a culpa não seja de ninguém, ou talvez do meu egoísmo. Eu não estava feliz, porque não estava lhe dando a felicidade e a satisfação ideal. E eu não poderia continuar em um relacionamento que só me trazia desgosto e cansaço pelos meus esforços em vão.
Sempre vou me lembrar dos bons momentos. Por isso que estou fazendo isso: não deixaria que os ruins, os quais reinavam em nossos encontros, ofuscassem o brilho das memórias que me orgulho de ter.
Não será preciso que o frio tome conta de meus dias para que eu sinta sua falta, porque eu sempre vou sentir. Você estará em cada lágrima, em cada pensamento, em cada sonho. Perguntarei a mim mesma onde está você naquele momento, cuja presença sua seria indispensável.
Obrigada por ter sido alguém tão especial para mim, alguém que não poderia ter sido melhor, alguém que eu sempre vou me lembrar sem rancor ou mágoa, apenas com um enorme carinho, porém sufocado por não ter lhe oferecido esse sentimento por um tempo maior.
Queira ou não, você é uma das raras pessoas para quem eu disse, com sinceridade, "eu te amo". E seria capaz de dizer ainda, mas com o tempo, as palavras tornarão apenas saudade. Apenas uma memória, que eu nunca terei vontade de esquecer.
Adeus.

Victória Pereira Martins
10 e 15/08/2007

"Foi tanta força que eu fiz por nada,
pra tanta gente eu me dei de graça"

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terça-feira, 10 de julho de 2007

Despedida

Não tive a chance de dar um adeus digno, então veio por meio desta me despedir. Ninguém se cansa de falar que seu sofrimento era muito, que você está em um lugar melhor agora, que talvez tenha sido melhor assim. E eu não canso de me fazer sempre a mesma pergunta: Por quê? Por que alguém tão saudável, talentoso, bonito e jovem foi tirado de nossas mãos desse jeito? Por que há tanta gente ruim e maldosa circulando à vontade por aí, com tanta saúde nos pulmões, enquanto os bons morrem jovens?
Sim, talvez tenha sido uma forma de poupar-lhe do sofrimento, mas definitivamente tal sofrimento foi transferido para nós, que continuamos nesse mundo que dizem ser pior que o qual você se encontra agora. Dói muito saber que você partiu tão cedo, sem dizer adeus àqueles que amava, sem fazer tudo o que tinha vontade, sem poder ter aproveitado um pouco mais esse caminho tortuoso e incerto que se chama vida.
A única coisa que me consola é saber que você fez a diferença enquanto viveu. Você muito nos ensinou sobre os valores da vida, sobre ser forte, sobre ter coragem. Talvez nunca sejamos capaz de enfrentar tudo o que você enfrentou, talvez não tenhamos a força que você teve. Mas ao menos a lição que você deixou vai soar pela eternidade. Espero que você tenha muito sorte, aonde quer que esteja. Saiba que fará muita falta aqui na Terra, que sua ausência será sentida e sofrida e que o tempo não apagará as boas marcas que você deixou.
Que Deus te guarde muito bem aí no paraíso, porque nós iremos guardar você para sempre em nossos corações!

Victória Pereira Martins
16/07/2007


Luto :/
Matheus Rathlef Lisboa
* 10/07/1990 † 10/07/2007

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Mentira

Um sábio homem disse que o escritor é mentiroso. Mesmo tendo total conhecimento da realidade, insiste em criar mundos ilusórios, nos quais só ele vive.
O escritor é hipócrita: critica todos os atos realizados por aqueles que vivem sem razão. Sempre diz que faria diferente em sua situação, mas faria totalmente igual, e quem sabe muito pior.
O escritor é um indivíduo eternamente apaixonado pela arte da palavra, alguém que penetra surdamente no mundo da língua, uma pessoa que não consiguiu largar seus vícios e entregou-se totalmente ao universo maravilhoso que é a literatura.
O escritor é alguém incompleto, que só se completa quando está junto de sua paixão. Sempre há algo de errado em sua vida. E mesmo quando não há, o escritor inventa, só pelo prazer de relatar uma infelicidade e desventura de seu caminho.
Talvez esse seja o grande defeito do escritor: gostar do estrago.
Para falar a verdade, é tudo uma questão de ponto de vista.
Eu não vejo como um defeito, e sim uma qualidade. O escritor, ao ser pessimista e sofrido em suas obras, mostra às pessoas que existem, sim, coisas ruins na vida; não há ninguém que desconheça tal fato.
Mas ele também mostra o lado bom das coisas. Porque retrata o amor, a dor, a morte. E, concorde ou não, são esses que salvam da loucura.
O escritor é mentiroso, hipócrita, apaixonado, incompleto e pessimista. Mas, mesmo de um modo estranho e incompreensível, também é feliz.

Victória Pereira Martins
30/05/2007

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domingo, 13 de maio de 2007

Maldita esperança

Mesmo quando a perdemos, tentamos manter a pessoa por perto de alguma maneira. Geralmente procuramos um pouco dela em outros: o costume, a essência, a voz, a cor dos olhos. A verdade é que nos acostumamos com a presença física da pessoa de uma forma tão dependente, a ponto de fingirmos que ela nunca partiu. Talvez seja preferível assim, afinal, tudo é melhor do que viver de desventuras. Mas o problema nisso tudo é: não existe cópia idêntica desse alguém. E por mais que existam semelhanças, ninguém nunca poderá preencher o vazio deixado pela dolorosa partida do amado. Não enquanto sobrar aquele velho vício da esperança, o que nunca é ruim. A não ser quando ficamos obcecados por algum fato que está para acontecer, sendo que nem sabemos ao certo se acontecerá de fato. Por isso, é melhor não esperar nenhum milagre. É melhor seguir em frente.
Porque, apesar da dor, a pessoa não nos faz mais bem. Ela se torna apenas um hábito que precisamos perder.

Victória Pereira Martins
23/05/2007

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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Guerra

Vencedor,
Sinto lhe informar que hoje está doendo mais que o usual. Sim, eu sei que o tempo faz a gente esquecer, mas o tempo também demora a passar. Apesar de ter pensado menos em você esses dias, a cada vez que me lembro de sua nebulosa existência, creio que a pontada interna seja maior, como o intervalo entre esses pensamentos.
É, eu perdi mais uma vez. Angustia-me ter a certeza que você não se importa com tal fato, porque além de ter sido sua culpa meu fracasso, também é seu mérito essa vitória. Irrelevante ter sido intencional ou não, ao menos eu ainda tenho a glória de poder chorar e levar no meu caminho apenas a incerteza. Quem sabe também, cobrar de mim mesma a tentativa de melhora na próxima vez. Isso é, se tiver uma próxima chance.
Caso você se sinta culpado pela minha tristeza e humilhação, acontecimento que eu acho muito improvável, fique sabendo que eu ficarei bem. O tempo é indeterminado e minha dor indefinível, mas eu gosto de prevenir as pessoas com certas ocorrências repentinas, o contrário do que você foi capaz de fazer.
Não quero que, com isso, você sinta que fez algo de errado. Na verdade, eu deveria agradecê-lo pelos bons momentos, ainda que efêmeros, que você me proporcionou. Eu que não deveria lutar com algo que sabia que não poderia combater e vencer. Iria esperar o triunfo ansiosamente, sendo que a realização nunca seria oficializada. O que alivia é minha ilusão doce ter sido destruída em questão de minutos, quando na verdade, poderia ter durado anos. Nesse caso, eu ansiaria tão friamente o grande momento, mas mais cedo ou mais tarde, o inevitável bateria à minha porta, fazendo-me dar adeus ao que seria minha pressuposta razão de continuar lutando.
Por isso, não me envergonho de admitir que caí, sim. Perdi e perderei quantas vezes forem necessárias até aprender com meus próprios erros. A única coisa que me dá raiva nisso tudo é que além de ter perdido a luta, me perdi de mim mesma. Todos os planos foram feitos com a esperança do destino ser em outra direção. Planos que ficarão pra sempre na memória, e nunca em exposição.
E por fim, perdi-me de você também. Lutava porque sabia que você seria o prêmio. Agora eu vejo que foi tolice a minha acreditar que vencendo, eu teria tudo o que queria. Na verdade, o que eu queria mesmo era provar a mim mesma e a todos que eu era capaz de triunfar naquela vez. E nem isso consegui. Ainda alegra-me que apesar de tudo o que vivi, eu arrisquei e valeu a pena.
Perdi, sim, todas as batalhas nas quais eu lutei. Mas ganhei a interna.
Que a vida lhe proporcione muitas vitórias, mas que você também não proporcione a mais ninguém o fracasso.

Victória Pereira Martins
10/05/2007

domingo, 6 de maio de 2007

Inverno

Aquele sorriso é seu maior mecanismo de defesa
Quem o vê, incapacita-se de não gostar
E cada palavra que fala, aumenta sua beleza
Alguém bem melhor do que eu poderia imaginar

A essência que não sai da minha cabeça
Chiclete, cigarro e perfume
É visível sua gigantesca proeza
Impressiona, como de costume

Sem dúvidas, tem muita humildade
Sua paixão é Minas Gerais
E embora deixe saudade
Foi bom tê-lo nesses braços tais

Victória Pereira Martins
02 e 06/05/2007

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Medo

Acho que todos nós, em algum momento de nossas vidas, sentimos medo. Pode ter sido por um filme, por solidão, por um susto, por uma perda, pela escuridão.
Mas o caso no qual mais temos medo é quando nos deparamos com alguma nova sensação. É natural e totalmente aceitável, ninguém sabe o amanhã. Se soubessemos, não seria preciso viver. Sentimos medo pelo que pode acontecer. Ou pelo que pode não acontecer. Sentimos medo das perdas que podemos sofrer, das coisas que podemos deixar de fazer, de perder oportunidades de ser feliz, de cuidar do nosso nariz.
Não nos contentamos com pouco, e temos medo de não realizar todas as coisas que queremos até o fim de nossas vidas efêmeras. Sentimos medo da morte, da dor, da razão, do amor.
E por pensarmos ansiosamente nesse medo que nos consome dia e noite, acabamos por não viver.
Culpamo-nos por sentir, por pensar, por desejar. E esquecemos que não há tempo de viver em vão. Não há tempo pra medo, não há tempo pra culpa. Por fim, vivemos como se nunca fôssemos morrer e morremos como se nunca tivéssemos vivido, sendo que passamos toda a vida com o lema de viver intensamente.
Faça, viva, sinta.
Tenha vontades, desejos e ame.
E mesmo que sua vida tenha sido efêmera, vai ter valido a pena.
Nunca se sabe, mas é preciso arriscar. A certeza é para as pessoas que não acreditam em si o bastante.

Victória Pereira Martins
23/04/2007

;*

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Crise

E meus dedos já não acompanham mais o papel que traz a nostalgia de um tempo que ficou marcado na memória. O tempo em que minha mente inundava em pensamentos e idéias e eu mal conseguia colocar todos em evidência por serem em tão grande quantidade. Hoje é minha mente que não me acompanha. Todos falam sobre a mesma coisa, um coração partido ou a perda de um amor. Sobre o sexo, sobre a felicidade e sobre a dor. Não importa. Quem os vê, sabe de que se tratam. Pode até ser que saibam como terminam, mas isso não é minha culpa. Se procuram algum culpado, é a vida. A vida que só traz esse tema ao meu caminho. Que nos engana, nos atiça e nos abandona. Chega a dar-nos tudo o que mais queremos, para que depois possa tirar de nós. E o pior de tudo é que sabemos que mais cedo ou mais tarde, essa realização que foi tão almejada, vai acabar. A união, a ilusão ou a tristeza. Sejam coisas boas ou ruins, acabam.
Assim como acabou o que me trazia fé à vida. O que me fazia tão bem, o que tomava todo meu tempo da forma mais deliciosa e prazerosa possível. Algo que eu cria que não fosse acabar nunca, e talvez realmente não tenha acabado. Pode ser uma crise, uma falha ou término temporário. Voltará, eu sinto. Não sei quando ou o que aconteceu.
Só sei que quero minha inspiração de volta.


Victória Pereira Martins
11/04/2007


Desculpa a falta de atualização
mas é como eu disse
falta de inspiração é foda ¬¬'

;***

quarta-feira, 28 de março de 2007

Fim

Ainda dói, sem que eu consiga sentir
Às vezes acho que não dá mais
E, embora eu tente omitir
Por mais que eu negue, não são sentimentos reais

E esses versos que escrevo em linhas tortas
Fazem com que minha mão se perca no papel
Admita, você sabe que há muito fechei minhas portas
Minha piedade não é doce como mel

Às vezes penso na fiel disputa
Que travavamos ao tentar nos apaixonar
Mas apesar de tudo, não é a minha culpa
O fato de você ter de se afastar

Não sei se foi verdadeira
A história que sem querer, escapou da nossa mão
A vida, audaz e traiçoeira
Faz-me pensar que tudo foi em vão

Mas eu sei que para sempre nada dura
Embora até cheguei a acreditar
E apesar daquela dor estranha e pura
Valeu a pena vivenciar

Se pudesse, faria tudo novamente
E acabaria simplesmente, como acabou
Nem faria nada diferente
Pois foi eterno enquanto durou


Victória Pereira Martins
28/03/07


Valeu, foi bom, adeus!
;*

e comentem;

terça-feira, 27 de março de 2007

Fábio

A mim não me importa
E talvez aos outros também não
Mesmo com aquela comunicação torta
Ele não sai do meu coração

A saudade que estala dentro do peito
Não é fácil de se suportar
Mas para tudo tem um jeito
E com o encontro eu fico a imaginar

Assemelha-se a um gênio de tão inteligente
Seu brilho irradia aonde quer que vá
E deixa intrigas em minha mente
Que só ele decifrará

Alguém assim tão especial
Alguém que eu nunca vou esquecer
Não conheço ninguém tão genial
Ninguém que realmente vale a pena conhecer


Victória Pereira Martins
27/03/2007


[Homenagem pro Fáááá, o unico visitante do meu blog ;)
te amo!]

terça-feira, 6 de março de 2007

Queda

Ele acordou sobressaltado. Quando percebeu que fora apenas um pesadelo, acalmou-se e saiu da cama. Como estava acostumado com a solidão naquela imensa casa, não tinha a quem dar "bom dia", e por isso, algumas vezes cumprimentava seus quadros, que guardavam imagens fantasmagóricas e assustadoras, porém o agradava. Seguiu sua rotina e fez tudo como o de costume, naquele silêncio insuportável. Todas as manhãs, ele tinha vontade de gritar, pois era o único que restava. Tateou no fundo de sua gaveta até encontrar o objeto gelado. Um revólver. Acariciou toda a estrutura, tendo vontade de apontar para a cabeça e puxar o gatilho, mas faltava coragem. Naquele dia, decidira que faria o que tanto almejava: libertar-se de tal mundo infiel. Desceu as escadas, tomou seu café matinal e ficou o resto da manhã apenas fitando seus quadros, pois eram somente eles que importavam naquele momento. Quando achou que já o fizera bastante, subiu para seu quarto. Sem cerimônia, pegou seu revólver e antes de poder pensar duas vezes, puxou o gatilho.
Ele acordou sobressaltado. E se deu conta de que não era mais apenas um pesadelo, era um sonho.


Victória Pereira Martins
06/03/2007

segunda-feira, 5 de março de 2007

Distância

Foi difícil partir e é mais difícil ainda permanecer longe. Não paro de olhar para trás, procurando entender por que acabou daquele jeito; tentando compreender por que a vida me deu tudo o que eu queria por alguns míseros momentos e logo após, num ímpeto, tirou-o de mim.
Dia após dia eu tento ser forte, mas ele não está aqui para me dar essa força que deu quando me ensinou a lutar. Tento seguir em frente, mas ele não está aqui para me pegar pela mão e mostrar-me o caminho.
Mesmo sem a presença física, eu conseguia senti-lo. Sabe-se lá por que, mas sabia que ele estava junto comigo. Hoje olhei para o lado e não o vi. Procurei-o a minha frente, mas ele costuma esconder-se. E então, procurei-o atrás de mim, e lá estava ele, porque o passado é o lugar mais seguro para encontrá-lo. O passado não é incerto, não deixa incertezas. Mas, sem dúvidas, vai deixar muita saudade.

Victória Pereira Martins
24/10/2006


[Viii meu AMOR*
não sei se você acredita nessas coisas,
eu talvez também não acreditasse, sabe?
mas foi quando eu olhei pra você hoje até mais tarde*
você lá me esperando, deixou suas amigas de lado, pra ir almoçar comigo,
onde eu quisesse.
aí que a gnt percebe, né??
que existe SIM alma gêmea, que existe essa sintonima entre nós, que existe MÁGICA.
Desculpa se eu briguei com você algum dia, porque Vi, você é a MELHOR irmã do MUNDO!
e eu te aaamo assim INCONDICIONALMENTE!
vou tá SEMPRE do teu ladooo
e a gnt NUNCA vai se separar!!
eu vou pra QUALQUER LUGAR desde seja com você! =]
AAAAAMO MUITO! mais que tuudo e nada muda isso, Viviii!!
a gnt CAUSA, baby!* =***
u and me, ALWAYS. mas a gnt FICA junta no final! hahahah³]
> By Nathy.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Os primeiros sete dias

Olho para o lado e não vejo você. Nada mudou, pois há alguns dias, eu também não via. Mas tinha certeza de que você estava lá, sentia o calor exuberante, a água oleosa que caía sem piedade sob meu corpo quente que pede, inconsciente, pela sua presença. Mesmo não estando lá, sabia-se amanhã, sabia-se outro dia. Agora, todas as minhas certezas viraram dúvidas. Sabe-se lá se nos veremos novamente, se tudo se repetirá nesse caminho incerto e cheio de curvas. Pego-me a pensar se você também pensa em mim. Pergunto-me impaciente se algum dia sentirei seu toque, se algum dia poderei te tocar mais uma vez. Recebo suas visitas constantes nos meus sonhos, nesses últimos sete dias. E fico confusa. Por um momento, quero que você vá embora, mas em outros, quero te abraçar tão forte de forma que nada nem ninguém possa tirá-lo de mim. Gostaria que nunca tivesse ouvido a sua voz, mas ao mesmo tempo, desejo loucamente ter passado mais tempo com você. Penso que nunca deveria ter te conhecido, mas queria mesmo ter te conhecido antes. Deste modo, talvez, significaria alguma coisa a mais na sua vida, como as mulheres por ti amadas, sortudas mas indignas de tal bênção. Com certeza, deixei um pouco de mim com você. O que aconteceu, independentemente do que acontecerá daqui pra frente, foi muito importante pra mim. Você me ajudou a crescer, você me deu asas para voar. Mas esqueceu-se de me ensinar a usá-las quando você não estiver por perto.

Victória Pereira Martins
22/10/2006

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Todo carnaval tem seu fim

E aconteceu. Foi tão bom que cheguei a pensar que não fosse real. Bem, talvez não fosse. Porque com a mesma velocidade que veio, foi embora. Não direi que nunca mais venha a sentir o que senti; eu não prevejo o futuro. Porém eu sei que valeu a pena, sei que faria tudo de novo, sem arrependimentos ou mágoas. Passaria por todo aquele processo, sofreria de novo, se fosse preciso. Mas passar pela vida sem essa, isso não. Talvez seja exagero dizer que foi o melhor acontecimento da minha vida, mas eu com certeza não seria a mesma pessoa se isso não tivesse acontecido comigo. Essas sensações indescretíveis são insubstituíveis. Não sei, pode ser que pessoas (que julgamos) inesquecíveis vão mesmo embora muito rápido.. no entanto, eu quero arriscar. Mesmo que isso inclua reviver as situações ruins. As situações boas as compensarão. Quem sabe tudo realmente dê errado, sejamos realistas, pode dar. Mas eu não vou me arrepender de nada que fiz. E vou continuar fazendo, continuarei arriscando.. Porque nunca se sabe, né? Poderia estar jogando fora a maior oportunidade por medo. E medo é uma coisa que eu não tenho mais.

Victória Pereira Martins
18/02/2007

[to a boy who's got my heart because of all these pretty things he did.. yeah, you know, that you keep me up in bed (L)]

;*

sábado, 10 de fevereiro de 2007

A última carta

Príncipe,
Meu quarto está deserto. Olho para ele, e o vejo repleto de insignificâncias. E chego à conclusão de que é meu coração que está deserto. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu sinto – e relutantemente admito – que falhei. Nada me resta, senão memórias dessa alma triste e solitária.
Você faz falta. E muita. Mas chegou a hora de dizer adeus. Preciso tomar decisões, fazer escolhas e abrir mão de certas coisas. Infelizmente, não sabia que você não entraria na lista de prioridades. Não sei por que, penso que agora eu mereço mais. Mais do que um cara que me ache “gatinha”. Que suma por dias, e depois diga que “estava sempre aqui”. Que me compare com amores antigos, e não me imagina como um amor futuro. Que uma relação ilusória e inexistente, que nunca vai pra frente.
Você nunca esteve presente. Eu é que sempre estava aqui. Você poderia me ter a hora que quisesse, porque minha porta estava sempre aberta. Fique sabendo que eu a estou fechando.
Algumas vezes a gente tem que sacrificar as coisas que gostamos. Eu gosto de você. Mas você não está me fazendo bem. É como se fosse um vício, uma dose exagerada de esperança. E tudo em excesso faz mal. Até as coisas boas, de fato.
Você me faz feliz também. Mas eu preciso me fazer feliz sozinha. Eu preciso bastar para mim mesma. E para isso, eu preciso me desligar de você antes de tudo. É como uma tomada que não sai do interruptor, pois ficou presa lá. É assim que eu me sinto. Presa no tempo. Mas, aos poucos, com a ajuda de quem está disposto a ajudar, ela vai se desvencilhando, assim como estou fazendo com você.
Não que eu queira isso. É que eu não ficaria bem como mais um prêmio na sua coleção. Meu coração não combinaria com a decoração do teu quarto, repleto de tantos outros por ti quebrados.
Prefiro andar na direção contrária a andar na sua direção, que não leva a lugar algum. Pois ainda que seja ao contrário, estou caminhando para algum lugar. E mesmo que demore, um dia eu alcançarei meus objetivos. E encontrarei alguém que me dê valor e que realmente valha a pena.
Adeus.
Com amor, Princesa.

Victória Pereira Martins
13/11/2006

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Soneto da irmã inesquecível

Nathy, a melhor irmã do mundo
Que mesmo longe, mora em mim
Neste quarto vazio e profundo
Cabe uma solidão sem fim

Sem você, nada mais tem graça
Ler, tomar sol, beijar um monte
Nem mesmo o menino que na rampa passa
Com o olhar perdido no horizonte

Sinto tua falta a todo instante
Ninguém pode tomar o seu lugar
Mesmo que tentem, para mim é irrelevante
Conto os minutos para você voltar

Essa casa ainda guarda sua essência
Que é pura e doce como o mel
O espelho ainda guarda sua aparência
Que é linda como o azul do céu

Nathy, de todos, a mais especial
É insuportável não ter sua presença
Prefiro viajar para o espaço sideral
A ter que conviver com a sua ausência

Victória Pereira Martins
17/12/2006

Homenagem pra Nathy, que por acaso vai voltar amanhã =]
Te aaaamo muito!
=*

A promessa

Ela não sabia onde Carlinhos a estava levando, mas já estava cansada de subir a tortuosa ladeira com sua bicicleta.
- Chegamos, prima! – disse a doce e suave voz que por muito tempo Amanda fora apaixonada – Lembra-se desse lugar?
Decerto, aquela rua sem saída com casas todas iguais não lhe era estranha com os olhos da infância. No final, não tinha um retorno ou um jardim, e sim uma fonte com uma fada no centro. Provavelmente, da ponta de sua varinha saía água, mas não daquela vez. É, de fato, a lembrança permanecia, pensou Amanda enquanto seus leves cabelos cor de mel, exatamente o mesmo mel de seus olhos, balançavam calmamente à hesitante brisa. Ela olhou para o primo e pela primeira vez desde que o reencontrara percebeu como ele estava incorporado, diferente e mais bonito. Suas feições estavam adultas, seus olhos, do castanho que eram, haviam-se transformado em um tom quase verde. E seus cabelos continuavam loiros, cacheados e suaves, estranhamente desejáveis.
Quando ela se deu conta de que havia desviado muito sua atenção, percebeu também que ele ainda estava esperando ansioso pela sua resposta. Então, vasculhou bem fundo na sua memória até achar qualquer vestígio de que já estivera naquele lugar antes. As lembranças começaram a aparecer e fluíram cada vez mais depressa à medida que a menina examinava mentalmente os momentos que passara lá.
- Está bem diferente – disse por fim. – Não era tão deserto. E essas árvores eram apenas mudas! – Abriu um sorriso com entusiasmo. – Ah, Carlinhos! Você lembrou! Costumávamos brincar por aqui quando tínhamos... Dez anos? É! Isso mesmo. – O menino sorriu também. – Seis anos depois você... – algo a interrompeu – Calma aí! Por que me trouxe aqui? Alguma data especial?
-Poxa, Amanda! – sua cara ficara séria – Francamente, achei que você se lembraria! 17 de Julho! Meu aniversário de 17 anos. Lembra das nossas longas conversas de que você só faria uma vez na vida uma idade igual à data? 17 em 17! Fizemos uma promessa, sabe? Não importa onde estivéssemos ou onde a vida nos levasse, a gente se encontraria nessas datas! 17 em 17 e 24 em 24!
Ela riu alto e com gosto. Lembrava-se de passagem, mas jamais pensou que eles voltariam a se encontrar. Depois que eles tomaram rumos diferentes – ele saíra da cidade para estudar e ela continuara lá, se privando das coisas que a fizessem lembrar dele -, esperou três anos! Três anos! E finalmente resolveu esquecer. Mas o primeiro amor, seja com dez, trinta ou sessenta anos, quando chega ao fim dói tanto que a dor se torna insuportável e é preferível mentir para si mesmo a conviver com isso. As lembranças diminuem, a falta que a pessoa faz se torna insignificante, mas no coração de quem ama, sempre sobra uma brasa esperando para arder de novo.
Agora, olhando diretamente para ele e sentindo as chamas acesas, suas suspeitas do início estavam erradas. Antes que pudesse perceber, seus olhos encheram-se de lágrimas e Carlinhos a abraçou.
- Priminha, não chore! Eu te amo tanto! – e se inclinando a ela, tocou seus lábios molhados. As lágrimas cessaram. Então, o beijo começou. E o pesadelo também.

Como num filme, todos os acontecimentos passaram pela cabeça de Amanda. Primeiro, eles brincando quando eram apenas crianças, crescendo, tomando rumos diferentes, sofrendo com a separação, se reencontrando, namorando por anos, casando, tendo vários filhos, vendo-os crescer, envelhecendo ao mesmo tempo e morrendo um ao lado do outro. Quantos anos jogados fora, pensou a garota tristemente, mas sabendo que agora que estavam juntos nada poderia vencê-los. Exceto eles mesmos.
Sentaram-se no chão, lado a lado, e contaram um ao outro sobre os acontecimentos depois que Carlinhos deixou a cidade. Assim propagou-se durante uma ou duas horas, e os dois estavam tão entretidos na conversa que nem notaram a passagem do tempo. O sol já tinha ido embora, dando um ar fantasmagórico àquela ruazinha que aparentava ser feliz. O silêncio reinou o lugar completamente deserto, e eles ficaram calados vendo a lua nascer por entre as árvores. Carlinhos pousou a mão carinhosamente no rosto de Amanda e ela olhou para ele com o canto do olho. Eles se beijaram imediatamente. Era automático, mal conseguiam resistir um ao outro. As mãos dele percorreram todo o corpo da prima, que sentia seu desejo aumentar cada vez mais. Quando ele estava prestes a abrir seu sutiã, ela impediu-o. Lembrara-se de todos os ensinamentos da mãe, religiosa extremista, que lhe dissera para não permitir liberdade com os garotos e insistia que sexo era só depois do casamento. Ele lançou-lhe um olhar severo que a fez estremecer por dentro. Morria de medo que seu primo desistisse dela por ser pura e não liberal. Respirou fundo e voltou a beijá-lo de uma forma mais selvagem. Sentia-se culpada por isso, mas fazia do mesmo jeito.
Quase entrou em pânico quando ele a deitou no chão, mas agüentou firme. Continuaram beijando no chão frio durante algum tempo, ao som da cantoria incessante das cigarras. Mesmo naquele momento, Amanda conseguiu rir ao lembrar que há seis anos ela brincava inocentemente naquela mesma rua e que tinha medo de escuro.
Esperou até o momento em que Carlinhos abriu o zíper da calça, com a esperança de que alguém apareceria para salva-la daquele pesadelo. Mas como isso não aconteceu, ela sussurrou baixinho:
- Não quero.
Ele fez que não escutou e ela segurou suas mãos freneticamente numa tentativa frustrada de pará-lo. Mas foi em vão, ele estava completamente decidido a terminar o que fora fazer. Tirou violentamente o short da menina, e ela só pôde assistir a aquilo atônita, sabendo que ela não o conhecia mais. Ele a olhou por uma última vez antes de tornar a beijá-la, e percebeu que havia lágrimas em seus olhos. Amanda sentiu uma vontade imensa de gritar quando aquele menino que ela tanto amava a penetrou sem carinho algum, mas seu grito de horror nunca foi ouvido.
Quando ele se fez por satisfeito daquele corpo quase sem vida, levantou as calças e partiu lentamente, deixando-a pra trás. A garota só conseguia chorar, e demorou quase meia hora até acalmar-se. Ficou lembrando da tarde que acontecera naquele mesmo dia, mas que parecia tão distante. Lembrou de quando ele falara da promessa. E parou, surpresa. Era dia 17 de Julho. Mas não era aniversário de seu primo. Ele mentira, e ela nem se dera conta. Viu-se sozinha naquele lugar tão sombrio e seu medo de escuro voltou. Ela sabia que não tinha o que temer, apenas a longa e dramática jornada de sua vida que viria adiante. Temia o sofrimento pelo qual passaria. Nada mais seria igual. Contemplou aquele cenário banhado pela lua, que aparentava ser maravilhoso algumas horas antes, mas que guardava lembranças dolorosas demais. Quando achou que já perdera muito do seu tempo ali, levantou-se devagar e dirigiu-se para o lugar onde deixara a bicicleta.

Victória Pereira Martins
09/01/2007

Apelo

Hoje faz um mês que o Senhor partiu. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti tanta falta. Bom chegar tarde em casa, esquecida nas loucuras dos amantes enlouquecidos. Nada mudara, exceto pela ausência contida. O calor permanecia, a presença se fora. O lugar guardado, olhares trocados por engano, a imagem fantasiada de um homem que já estava longe.
Com os dias, Senhor, finalmente compreendi. A notícia de minha perda veio aos poucos: a falta da pressa afobada, o corredor deserto, as cores desbotadas perdendo ainda mais o brilho. Para não dar por fraca, fingi ser forte. Bebia com os amigos e perambulava sem rumo com a companhia que encontrava. Depois eu ficava só, sem a piedade de minha estranha solidão ou de todos os medos da noite fria e cruel.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa das restrições, das risadas inexperientes e das travessuras nas noites eternas. Acaso é saudade, Senhor? Aos seus erros, não lhes poupei perdão. Minhas lágrimas nas refeições foram substituídas por bocas raivosas mastigando. Não é ódio acumulado nem sede de vingança. Mas acostumei-me com a gélida falta que você faz. Não venha mais para casa, Senhor, por favor.

Victória Pereira Martins
29/05/2006